sábado, 18 de novembro de 2017

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XVI - Parte

VISÃO DO FUTURO
Manoel Almeida foi mais do que fundador das Escolas Caio Martins, foi um grande mestre, um grande educador. Era admirável a maneira como ele penetrava na alma e preparava o espírito de seus jovens pupilos. Os caminhos que ele percorria levam diretamente à mentes e corações dos meninos. E usava dos meios que dispunha a escola, em seu campo e espaço físico.
Uma clareira no bosque formado por portentosas árvores – jatobá, pau d´óleo, aroeira…
Salão da “Rádio”, local de reunião domingueira do pessoal da escola e moradores do entorno.
A casa do Escoteiro à margem de uma bucólica lagoa…
Eram os ambientes preferidos e muitos especiais, às vezes lembrando um liceu, para o coronel Almeida conversar com seus jovens pupilos, em especial do curso normal regional, todas manhãs domingueiras depois da celebração da missa pelo estimado capelão José Augusto (lembro-me dele chamando a comunidade para a missa, no alto da escadaria da igreja, batendo sino e chamando um por um pelo nome; e depois saboreando o frango na casa de dona Targina). Para nós, nos tempos primeiros, ainda muito jovens, a palestra, de início, era quase um suplício, pois tínhamos o pensamento no campo de futebol. Depois, no desenrolar da fala, ele nos prendia. Muitas vezes, pela idade e pouco conhecimento, até então, muito do que ele falava a gente não entendia, mas hoje eu sei, ele estava plantando, semeando para depois cultivar. Não ficava apenas em sua fala. De quando em quando levava alguns visitantes para falar à meninada. Um dele contou belas histórias, segurou nossa atenção. O nome dele não despertava nossa atenção, Malba Tahan. Mais tarde, mergulhando no mundo das leituras, dei-me com o livro O Homem que Calculava e lá estava, como autor, nosso ilustre contador de história. Ainda na primeira fase, recebemos a visita de um padre/educador canadense. A nossa curiosidade foi logo despertada por receber um canadense que falava conosco com auxílio de um intérprete. Curiosidade aguçada. Guardo muito bem uma de suas frases, dirigidas ao coronel Almeida, em vista do quanto a escola Caio Martins despertara as sua admiração, como educador. Disse ele dirigindo-se o coronel Almeida: “hoje aprendi o verdadeiro significado da palavra patriota”. Foi minha arrancada para, também, buscar ser um patriota.
Na segunda fase, já bem adiantados no curso normal e sendo preparados para a jornada, aventura no Urucuia, o coronel Almeida ampliou nosso campo de conhecimento extraclasse colocando-nos em contato com o mundo: Rousseau, Pestalozzi, John Dewey, Lourenço Filho, Amaral Fontoura, Helena Antipoff (seria minha madrinha de formatura, impedida de comparecer por motivo de doença sendo substituída pela jornalista Florence Bernard que escreveu uma crônica belíssima na revista O Cruzeiro, abordando os bandeirantes do Urucuia: “Os Doze Bandeirantes  Abençoada Dúzia – éramos 12.
Contador de histórias seria o adequado ao coronel Almeida? Pode ser, mas no fundo mesmo, ele era um grande educador, que tinha um jeito muito próprio e especial de penetrar na alma dos jovens e moldá-las para o futuro como patriotas.
Texto: João Naves de Melo

Nenhum comentário:

Postar um comentário