sábado, 4 de novembro de 2017

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XIV - Parte

ESCOLA DE BURITIZEIRO – II

Bandeirantes do Urucuia acompanhados
por Dona Maria Célia e as colegas Virginia,
 Inês e Maria Eusébia
Meu primeiro contato com Buritizeiro se deu quando da viagem da Bandeira do Urucuia para a instalação do Núcleo do Urucuia. Foi uma parada estratégica para descansar e receber os votos de boa sorte por parte da direção, funcionários e alunos da escola. Ficamos um dia ali. Eu registrei a passagem com uma única fotografia, pois as fotos eram contadas de acordo com minha posse. Isto foi no começo do mês de junho de 1957.
Por volta de 1958 voltei à escola de Buritizeiro dando início a várias outras viagens, tudo por um acidente do destino.
O Núcleo do Urucuia tinha uma frota mecanizada composta por um caminhão Ford francês, um jipe e um trator. Motorista do caminhão era o Doda, um rapaz que o coronel Almeida alçara de Boa Esperança. Ele aguentou a vida naquele sertão inóspito, esquecido do mundo, por pouco tempo. Num certo dia dormiu, mas não amanheceu no Núcleo.
Ao José Maria e a mim foram delegadas as funções de motoristas. Eu com o jipe e Zé Maria com o caminhão. Assim, atendendo às emergência do Núcleo, eu  fiz várias viagens à Pirapora/Buritizeiro. Zé Maria no caminhão. As coisas mudaram. Zé Maria era meio turrão, não era afeto a muita conversa, meio esquentado. Na direção da Escola estava o capitão João Almeida, irmão do coronel Almeida que, igual ao Zé Maria, tinha o estopim curto. Pouco conversavam e quando conversavam se espetavam. O Capitão queria que o Zé prestasse alguns serviços à escola, como transportar lenha e madeira das fazendas para a sede. Zé relutava em atender o pedido querendo voltar logo para o Núcleo. Sem solução, o jeito encontrado pelo diretor Audálio foi encarregar-me das viagens com o caminhão para Pirapora. Audálio alertou-me do ocorrido entre o Capitão e Zé Maria. Assim, procurei estabelecer um bom relacionamento com ele. Atendia-o no que fosse necessário, sempre sem questionar, mas atrasando meu retorno ao Núcleo. Em compensação ele me tratava com todo respeito e atenção, nos tornamos amigos.
Outro amigo que fiz, fruto de minhas viagens e bom relacionamento na escola, foi com Abdias – secretário e almoxarife. Atencioso, atendia-me sempre com toda presteza e boa vontade, muitas vezes, passando-me valiosas informações profissionais. Às vezes ele exagerava acompanhando-me, a mando do capitão, quando levava a Pirapora moças convidadas para festa na escola. Quem ocupava a cabine do caminhão, primeiro que todos, era o Abdias. Uma das moças, sobrinha dele, me olhava diferente…
Mais tarde, como diretor de Centros e Núcleos e do Setor de Produção da Fundação Educacional Caio Martins, visitei por diversas vezes as fazendas São Félix, Quatis e Varginha, que foram adquiridas pelo Estado e transferidas às Escolas Caio Martins para o desenvolvimento agrícola. Em cada uma delas morava um casal formando  lares com diversos alunos. Nas fazendas eram produzidos cereais e frutas que sustentavam a escola e até mesmo eram enviados para outras unidades da Fucam, principalmente feijão, que era produzido com sucesso na fazenda Varginha, em um fértil vale às margens do rio São Francisco. Era muito promissora a atividade agrícola naquelas fazendas.
Um episódio: era comum, estando em Buritizeiro, comunicarmos com o Núcleo através de radiofonia (sistema de comunicação daquela época, cuja central era instalada no Palácio da Liberdade, que tinha estações em Buritizeiro, Urucuia, São Francisco, Januária e Carinhanha – PPC). De uma feita, tendo minha estadia em Buritizeiro retardado muito, fui à estação de Pirapora para mandar um recado ao Audálio. No ar justifiquei porque não viajara, ainda. Pensei em dizer que o Capitão estava me segurando com certo exagero. Uma luz me bateu na hora e, então eu disse que precisava ficar mais um pouco porque o Capitão havia solicitado uma ajuda, o que achava justo. Chegando à escola, logo depois, o capitão me chamou em sua casa e disse: "ouvi sua mensagem para o Audálio" (eu não sabia, mas ele tinha por hábito seguir, todos os dias, as comunicações entre os Núcleos e cidades ribeirinhas). "Muito obrigado pela atenção" – ele emendou. Ficamos mais amigos ainda.
Capitão João Almeida era muito sistemático, para uns muito bravo. Era seu jeito, pois no fundo, conhecendo-o sabia-se tratar de uma pessoa amável e compreensível e, sobretudo, que amava a Escola Caio Martins.
Foto e Texto: João Naves de Melo

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