A Ong Preservar promoveu um evento, na quarta-feira 4, para comemorar o 516º aniversário do Rio São Francisco com uma variada programação.
Às 17h o público já se concentrava na Praça dos Pescadores, bairro do Quebra. Chegaram, ao mesmo tempo, os corredores para a disputa da mini maratona divididos em três categorias: masculino, feminino e veterano.
No palanque armado no começo da Orla, com Guilherme Pereira Barbosa, conduzindo a cerimônia, foi aberta a programação que constou do seguinte: palavra do presidente da ONG Preservar, Roberto Mendes; mensagens enviadas pelo deputado Arlen Santiago, Loja Maçônica Acácia Sanfranciscana e Codema, todas abordando o tema: salvar o Rio São Francisco. Poema magistralmente declamado por Damaris; participação de José Luiz contando “causos”, entre eles a adaptação que fez sobre a saga de Antônio Dó. A parte musical esteve a cargo da dupla Guilherme e João Herbber apresentando canções regionais e ligadas ao rio São Francisco; e Kaká Espósito e seu teclado.
O vereador Professor Rubens colaborou com o evento – primeiro buscando contribuição de seus pares na Câmara Municipal para aquisição de camisetas para os atletas e, depois, coordenando a mini maratona e o passeio de bicicletas.
A mini maratona teve um percurso de 5 km, passando pela orla e centro da cidade. Foi muito bem organizada e os atletas demonstraram esportivo e muita alegria em participar o evento. O passeio ciclístico teve o mesmo roteiro e a mesma alegria.
A Polícia Militar colaborou com o evento com um veículo batedor acompanhando os atletas. Também colaborou, puxando dos ciclistas, o Amauri com o Galo Móvel.
Participação especial: Prefeitura Municipal de Icaraí de Minas com a presença do coordenador de Meio Ambiente daquele município, Valdercir, que trouxe uma faixa alusiva ao evento e uma considerável quantidade de sementes arbóreas para produção de mudas destinadas ao replantio de nascentes e áreas degradadas.
MENSAGENS
Deputado Estadual Arlen Santiago
Parabéns, Rio São Francisco!
É com grande satisfação que parabenizo um dos principais rios da América do Sul e do Brasil. O Rio São Francisco é um patrimônio cultural e natural do nosso país que necessita de cuidados especiais. A revitalização e a preservação desta riqueza brasileira precisa da conscientização de autoridades, empresários e sociedade em geral. O Velho Chico é protagonista no país e merece ser homenageado todos os dias!
Nesta data especial, meus sinceros cumprimentos a todos que possuem história com este rio!
LOJA MAÇÔNICA ACÁCIA SANFRANCISCANA
A Loja Maçônica Acácia Sanfranciscana traz seus cumprimentos à ONG Preservar e a todos os participantes do evento em comemoração aos 516 anos de descobrimento do nosso rio São Francisco.
É, sem dúvida, uma iniciativa que demonstra o amor que os são-franciscanos têm por seu maior bem que é o rio São Francisco, a razão da nossa existência.
É também uma iniciativa que busca marcar nossa preocupação com o estado tão lamentável em que o rio se encontra, grande parte pela nefasta ação do homem. Assim, é uma oportunidade para que se dê um grito de alerta, chamando a atenção dos governantes e do povo em geral: ou cuidamos do nosso rio ou, em pouco tempo, poderemos estar amargando sérias consequências.
Lembramos que estudos locais mostram que a situação hídrica do município é crítica, assustadora. Centenas de veredas estão secas, mananciais importantes estão à morte e quase nada tem sido feito pelos governos federal e estadual para evitar um desastre maior.
Não estamos sendo pessimistas e nenhuma Cassandra. O que falamos é a realidade. Basta ver a situação da cidade de Montes Claros, com severo racionamento de água, para ter uma ideia do que pode nos acontecer no futuro se nada fizermos para salvar e proteger o nosso maior patrimônio, o rio São Francisco.
Hipotecamos total apoio a todas as iniciativas que venham em defesa do nosso rio.
Salve o Rio São Francisco.
CODEMA DE SÃO FRANCISCO
A visão que temos do nosso rio São Francisco é aterrorizadora. Fina lâmina d´água cobrem bancos de areia que vão crescendo e crescendo de forma a dominar quase todo seu leito.
Dizem alguns que tal estado é ciclo, mas não é. Basta estender os olhos ao cerrado e verá o desastre ambiental – a morte de veredas, córregos e o fim de importantes rios como Acari e Pardo. É um sinal nunca visto antes.
Nos primórdios não era assim. Viajando no tempo vamos encontrar o relato de pesquisadores que singraram suas águas no século XIX – o botânico Richard Burton e o engenheiro Teodoro Sampaio, descrevendo o mundo quase selvagem, maravilhoso e com uma fantástica quantidade e variedades de peixes, e uma nação pujante que nascia cheia de promessas.
Mais recentemente, no século vinte, encontramos os escritos de Geraldo Rocha que tão bem definiu o rio como “São Francisco – fator precípuo da existência do Brasil”. Sim, o rio da unidade nacional. Não fosse o São Francisco o Brasil não seria este gigantesco e quase continental país, poderia estar esfacelado como as províncias espanholas na América do Sul, que se transformaram em vários países.
Um alerta, contudo, já vem sendo dado, mostrando os problemas que o São Francisco poderia enfrentar pela falta de ações dos governantes. Isso no começo do século XX, como escreveu Vicente Licínio Cardoso, anotando, com tristeza, que o rio São Francisco era um rio sem história.
Carlos Lacerda, ainda jovem jornalista, fez uma excursão pelo vale do São Francisco, quando descreveu suas riquezas, mazelas e problemas, por sua vez, ferindo na mesma tecla – a ausência de políticas públicas – um rio e um povo esquecidos.
São registros importantes que, infelizmente, não sensibilizam os governantes, a não ser para se promoverem, como no caso da famigerada transposição. Ora, como pode levar água às distantes terras, ainda que necessário, se deixam o rio morrer dia a dia e condenam os ribeirinhos a uma vida de desespero – vendo o minguar de suas águas, a todos os anos, serem tomadas pela cianobactéria. Vendo que os governantes não fizeram e nada fazem; quando o cerrado, pai das águas foi dizimado para produzir carvão alimentando usinas distantes, e, agora dar espaço para o plantio de eucalipto e pastagens. Veredas vão se extinguindo, uma a uma.
O problema do São Francisco é o grave problema do ribeirinho e do morador do cerrado – todos estão comprometidos e, se continuar o tal estado de devastação, em poucos anos estaremos diante de uma violenta catástrofe – desertificação do cerrado e esgotamento do São Francisco que já conta, atualmente, com pouca recarga de seus antigos tributários.
Se nada for feito para salvar o cerrado e sua gente, é factível de alguém diante da calha do rio, de um topo qualquer, venha dizer com saudade a um jovem: meu filho, esse imenso trilho de areia que suas vistas hoje contemplam, outrora foi o majestoso rio, o mais importante do Brasil, o então falado rio da nacional.
Não há nisso exagero se lembrarmos que, tão recentemente, na década de 60, singravam em suas águas iluminados vapores, transportando viajantes e mercadorias; imensos batelões e belas lanchas. E hoje, muito mal singram suas águas pequenos barcos ou rabetas.
Assim, como vemos nosso rio, sentimos uma profunda tristeza, cobrindo-nos de preocupação pensando nas gerações de um futuro próximo. O cenário é tétrico, desanimador, preocupante. Muito mais preocupante por três motivos: a seca que assola a região, onde se vê que são mínimas as ações que visam evitar o desastre. A Prefeitura Municipal, através da secretaria municipal de Meio Ambiente e Codema e de entidades não governamentais, como Grufinch e Preservar, têm feito sua parte, mas é muito pouco diante da gravidade do problema. Outro motivo: a ganância. A acelerada produção de carvão vegetal tendo como matéria prima o cerrado, provocou um formidável desequilíbrio ambiental na região, produzindo efeitos danosos na flora e fauna, tudo refletindo na produção de água. Empresários lucraram e, hoje, o povo do município paga a conta.
Outro motivo, muito grave, é o da desgovernança. O governo nada faz para salvar o rio. Pelo contrário, tudo faz para agravar a situação, agindo com liberalidade quanto ao desmatamento do cerrado e com a fragilidade de seus órgãos fiscalizadores.
É um conjunto perverso de motivos agindo contra o Rio São Francisco que, como ser descarnado, mostra seus ossos arrancando lágrimas de nossos olhos e causando profunda dor em nosso coração.
POEMA
O RIO SE VAI
A espuma borbulhante
Que brota do leito verde
É o sangue da água ferida
Sinal de morte do rio
O cheiro asqueroso da morte
Flui malévolo tomando a brisa
Que perfuma as ruas da cidade
Como a doçura da primavera da vida
E lá no ninho aconchegado
O homem do rio estremece
As entranhas se contraem repugnando
E o refluxo de fel enche-lhe a boca
Ardem os olhos querendo a lágrima
Da saudade do rio que já passou
São águas idas tão puras e frescas
Conto e reconto da vida barranqueira
Os viventes outros do secular caminho
Peregrinam exilados sem rumo
Deixam o ninho onde tinham a vida
Para desviverem na saudade que vem.
O grosso lodo avoluma e escorrega
Sem despertar alegrias, sonhos e fantasias
O rio passou antes e não voltou
Homens, o que fizeram com o sagrado rio?
João Naves de Melo – 15.12.2007
ATLETAS CAMPEÕES
FEMININO:
1° Lugar – Rosângela Xavier Vieira (Bairro Moradeiras – Januária)
2° Lugar – Daiane Rodrigues de Souza (Bairro Quebra – São Francisco)
3° Lugar – Olga Reis de Miranda Meira (Bairro Boa Esperança – Januária)
MASCULINO:
1° Lugar – Alexsandro Oliveira de Souza (Fazenda Corredor – São Francisco)
2° Lugar – Juliano Gonçalves de Jesus – (Bairro Jussara – Januária)
3° Lugar – Vinícius Gonzaga Ferreira (Paraterra I – Pintópolis)
VETERANO:
1° Lugar – Lourenço Rodrigues Ferreira (Bairro Centro – São Francisco)
2° Lugar – Altamiro Ramos de Almeida (Bairro Luzia – São Francisco)
3° Lugar – Antônio Domingos (Bairro Santo Antônio – São Francisco)
APELO DA ONG PRESERVAR
Em sua fala, na abertura do evento comemorativo do aniversário do Rio São Francisco, presidente da ONG Preservar, Roberto Mendes, discorreu, primeiramente, sobre a situação do rio fazendo um alerta no sentido de que toda a população são-franciscana ficasse atenta com o que está acontecendo com o rio, que se mobilize, interesse e trabalhe em benefício de sua revitalização e proteção. Afirmou que não bastam as palavras, as preocupações, mas que fossem elas acompanhadas de atitudes.
O presidente fez um rápido histórico da Ong Preservar, como foi criada e quais eram seus objetivos – cultural, histórico e ambiental- com seu trabalho integralmente voltada para o crescimento de São Francisco e proteção de seus valores. Lamentou, contudo, que é imensa a messe, mas poucos os operários e, menos ainda, os recursos. Conclamou que mais pessoas aderissem ao trabalho da Ong que é para o bem do município.
Roberto enalteceu a participação dos atletas corredores e ciclistas, dizendo que sua atividade significava um busca sadia e preservação da saúde e um bem para a mente. Estavam todos de parabéns pelo que praticam e por sua participação de um evento que tem o um significado muito grande para toda a população ribeirinha.
Agradeceu, ainda o trabalho da equipe da Ong, universitários, artistas e públicos, acentuando que todos foram partes significativas no evento.