Ramatis fez uma descrição da cidade de Nazaré do tempo de Maria e José, onde Jesus passou a vida antes de partir para a sua missão salvítica. Um cenário que suscita reflexão quanto ao modo de vida e o relacionamento social da época paragonando com os tempos atuais. Ele fez uma descrição minuciosa da cidade então com 2 mil habitantes. Apesar da aparente pobreza, ela se revestia de valores sociais que comparada com o que se tem atualmente em muitas cidades brasileiras é observa-se uma espantosa disparidade. Em alguns aspectos remete-se a São Francisco de antanho, na cidade e no meio rural: “Ao redor da cidade de Nazaré, formando caprichoso cinturão, esparramavam-se as casas de madeira de lei, construídas principalmente de cedro do Líbano que se misturavam às cabanas bem feitas e às palhoças de barro batido, cobertas com folhas de palmeiras”.
E descreve a impressionante fartura e variedade de alimentos que disponibilizados aos caravaneiros: “As hospedarias, embora remuneradas, eram acessíveis ao bolso de todos os viadantes, pois a qualquer hora os retardatários encontram bom caldo de peixe, sopa suculenta de hortaliças com muito alho e cebola, carne assada, farinha cheirosa para pirão de peixe seco ou salgado, pão de trigo ou centeio, fresco e saboroso, além das travessas com a fartura de saladas de legumes regados com o melhor azeite do lugar. Sobre as mesas, a bilha de vinho exalava o odor da uva madura: à sobremesa em geral, havia figos melosos e macios, pêssegos aveludados ou tâmara de Jericó”.
Descreve a riqueza do artesanato e ofícios “Os viajores também encontravam, junto à estrada, o seleiro para ajustar os arreios, a o ferreiro para ferrar os animais, o carpinteiro para consertar as charruas e outras viaturas. Havia também pequenas indústrias e artesanato, que vendiam pás, enxadas, ancinhos, cochos e mós para a moeda de trigo; ripas, sarrafos e tábuas para a construção; bilhas, odres vasos e apetrechos de cerâmica, feitos com arte e gosto. Era fácil encontrar o tecelão, cuja família inteira o ajudava entre o pó dos teares fazendo desde o pano simples para o lençol, ou de ramagem para a túnica ou veste, o tapete pequeno para a entrada, ou o toldo berrante para a cobertura de mercadorias ou proteção contra o sol”.
Tal riqueza, sem dúvida, implica em ação, ou seja, em trabalho – individual ou familiar. O que em tempos não muito remotos era comum em São Francisco, basta lembrar a atividade do mercado e a grande produção de alimentos produzidos no meio rural. Hoje tudo se tornou impossível, pois o trabalho foi renegado a segundo, terceiro ou mais planos se há a muleta social.
E conclui Ramatis: “Assim era a província de Nazaré, com o seu cenário encantador e buliçoso, que depois serviria para hospedar o mais excelso dos hóspedes – Jesus, o Sublime Peregrino”.

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