sábado, 9 de agosto de 2025

AGOSTO

 


O mês de agosto é prenúncio da Primavera. A natureza ainda está em dormência. As árvores estão desfolhadas e as que as suportam algumas folhas, tem-nas marronzadas, retorcidas e ressequidas e as flores são raras. Eis que, sem dar aviso algumas espécies vão se adiantando nas vestimentas primaveris e nisso acabam se dando bem, notadas naquele contraste vivaz com o triste cinzento. Isso tenho visto, por andanças pelo cerrado na inflorescência do ipê, árvore símbolo do Brasil. Na orla do São Francisco acompanho em caminhar distraído as transformações manifestadas. Sempre estou de olho no tamboril no ano todo. No final de julho ele está desfolhado sustentando apenas as sementes aguardando o momento de caírem. Nada nadinha de verde senão ramos de teimosas ervas de passarinho. Surpreendendo-me com as prenunciadas. Algumas plantas são mais sensíveis às umidades profundas, ainda que não se sinalize chuva no céu. Veios d´água devem furar bloqueios de pedras, barro ou tauá procurando caminhos e, com isso saciando raízes mais profundas. Então, é o que se vê: o pajeú, árvore de beira de rio, sempre ali pregada nas barrancas, testemunha de grandes enchentes e terríveis secas, se vestindo de florada. De buquês verdes primeiro e depois passando ao vermelho – flores às pencas cobrindo toda a fronde das árvores. É um topete escarlate refletido nas águas do rio, nesta época tão cristalinas. Um pouco afastadas das barrancas, mas ali na orla, a caraibinha se arrebenta em flores brancas, mimosas e docemente perfumadas. Soltas aqui e acolá, mais próximas do balaustre sobem moitas de algodão manso. É uma plantinha tão comum na catanduva, nas matas secas, muito mais em terrenos de pedreiras e de solos áridos, de pouca água, que poucos dão ligança para ela tendo-a como sem serventia. Mas tem: a de servir de brinquedo para as crianças explodindo, com os dedos, seus botões brancos, em formas de esferas ocas.  E o que têm elas, então, para merecer uma atenção, agora? As flores, tão delicadas e desenhadas. Formam pequenos buquês e quando se abrem aprecia-se a engenhosidade de traços coloridos. É prenúncio da Primavera.  

É preciso tanta tristeza assim para sentir o rebentar da vida, que nos oferece a natureza quando chega a Primavera. É preciso o cinza para festejar o verde lustroso e o colorido de tantas e tantas flores que se abrem. 

Eu queria ser como o tamboril. No inverno ele se mostra seco, enrugado, cascas eriçadas, cinzentas, um quase morto. Vem chegando a Primavera, ele  solta  pequeninas folhas – uma, duas, e tantas outras, quase transparentes, translúcidas. Depois, mais aglomeradas, como um manto verde, forram a fronde da árvore. 

Eu, ao contrário,  a cada Inverno vou perdendo o vigor, que não se renova com a chegada da Primavera... Vou me acinzentando, descendo o rio abaixo.

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