sábado, 29 de março de 2025

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


DANÇAS DO SÃO FRANCISCO


Sétima parte


O QUATRO


É uma dança divertida, que exige muita destreza e atenção dos dançadores, pois, ao mesmo tempo, eles cantam e tocam seus instrumentos - violão, viola, rabeca, caixa – podem alternar com pandeiro, reco-reco e balainho. Comumente, como indica o nome, são quatro dançadores que formam uma pequena roda e, ao som do batuque e do canto, iniciam interessante coreografia, trocando de lugares numa evolução dinâmica com muita graça. Às vezes, conforme o número de dançarinos, executam a dança com oito elementos, o que é mais complexo, exigindo-se redobrada atenção e destreza, pois o cruzar de parceiros, tocando seus instrumentos, faz com que muitos têm que se desvencilhar dos braços dos violões e violas e do arco da rabeca, que rodopiam no ar, sem perder o passo que é muito dinâmico e sempre rotativo.

Câmara Cascudo registra a dança com o nome de Quatragem - dança popular do interior de Minas Gerais. Bernardo Guimarães a registrou em seu romance o Seminarista (1872): “A quatragem é a dança pitoresca dos nossos camponeses, dança favorito do roceiro em seus dias de festa, e as delícias do tropeiro, nos serões do rancho, após as fadigas da jornada. Dança vistosa e variegada, entremeada de cantares e tangeres, cantiga maviosa, já freneticamente sapateada ao ruído de palmas, adufes e tambores. Sem ter o desgarre e desenvoltura do batuque brutal, não é arrastada e enfadonha como a quadrilha de salão; ora salta e brinca estrepitosa e alegre, se requebra em mórbidas e compassadas evoluções. Como o próprio nome indica, forma-se um grupo de quatro pessoas. A música é desempenhada pelos dançantes, que, além de uma garganta bem limpa e afinada, devem ter nas mãos ao menos uma viola e um adufe. Há uma quantidade incalculável de coplas para acompanhar esta dança, e a musa popular cada dia engendra novas. São pela maior parte toscas e mesmo burlescas e extravagantes; todavia algumas há impregnadas dessa maviosa e singeleza poesia que só a natureza inspira”.

Em São Francisco  o quatro ou quatragem não fugiu das origens. É a animação das festas, principalmente no solstício de verão, quando os foliões saem na sua jornada para adorar o Menino Jesus. Não há Folia de Reis sem o Quatro, que é a preferida de todos. A dança, por si, enche os olhos. As letras sempre lembram os animais da preferência do folião, ligadas à uma paixão, ou contam histórias passadas na comunidade – o pesquim, como dizem.

Uma das quadras divertidas do folião Locha:

Vô mimbora/Vô mimbora, não/Xô, meu canarinho/Oê, minha sabiá/ Canarinho nas primeiras águas/Subiu na roseira pegou a cantá/Canarinho é meu amô/Sabiá o meu pena/ Na lua vai quem qué/La num tem prefeito e fiscal/Nem Veríssimo, nem Badé/Lá os cachorro veve a cuma qué.

sábado, 22 de março de 2025

CONSELHO MUNICIPAL DE SEGURANÇA PÚBLICA EM PAUTA

 


O comandante 13ª Cia Independente da PMMG de São Francisco, Ten-cel Wilson Fabiano, convidou representantes de alguns setores da comunidade são-franciscana para debater a instituição do Conselho Municipal de Segurança Pública – CONSEP – em São Francisco que, anteriormente, chegou a funcionar no município estando, contudo desativado.

A convite do comandante Wilson, o tenente Eliseu, do Pelotão das PMMG de Brasília de Minas fez uma ampla exposição sobre a instituição e funcionamento do CONSEP tendo, como modelo o conselho similar existente em Brasília de Minas, que vem operando com muito sucesso. Ressaltou-se a importância do conselho, sua finalidade e o que pode representar para a comunidade. Após a explanação do tenente Eliseu foram  formuladas várias perguntas e dadas sugestões a respeito. Decidiu-se, como primeira medida, a instituição de uma diretoria provisória para elaborar o estatuto e o regimento do conselho, preparar a realização de uma assembleia para a sua criação e eleição da primeira diretoria. 

Foi eleita a diretoria provisória, assim constituída: presidente,  José Passos, vice-presidente, Rita de Cássia Mendes; secretário, João Naves de Melo, tesoureira Eliane Ribeiro.   

Por fim, determinou-se realizar a assembleia para apresentação do estatuto e eleição da diretoria, no dia 27 deste mês, às 15h na Câmara Municipal.


O QUE É O CONSEP


O Conselho Comunitário de Segurança Pública (CONSEP), que já está instalado em diversas regiões, firmou-se como tendência a partir dos anos 90 e vem aprimorando a relação entre a PMMG e a sociedade. É um espaço de exercício da cidadania consciente, onde todos participam e contribuem para uma vida comunitária sem atropelo e insegurança. 

POLUIÇÃO SONORA NA BERLINDA

 

Importante encontro aconteceu na sala de reuniões da 13ª Cia Independente da PMMG de São Francisco, no dia 20, quinta-feira. O assunto em pauta: regulamentação da poluição sonora em eventos festivos, propaganda volante e bares. Presentes à reunião o prefeito Miguel Paulo, o comandante da 13ª Cia da PMMG, Ten-Cel. Wilson Fabiano e sua equipe imediata; promotor de Justiça Daniel Polignamo Godoy; secretário municipal de Meio Ambiente, Conceir Damião; presidente do Codema, Diovane Rene Costa; Leandro  Amaral Barbosa, representante da Secretaria Municipal de Infraestrutura; representantes da Polícia Civil, Manoel e Walison; representante da Loja Maçônica Acácia Sanfranciscana, João Naves e Alda Maria, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O comandante Tem-cel Wilson Fabiano abrindo a reunião discorreu sobre a importância do assunto a ser tratado manifestando o apoio da PMMG. O prefeito Miguel Paulo manifestou o interesse da administração municipal pela regulamentação da poluição sonora que é uma preocupação de grande parte da população são-franciscana, na cidade e no meio rural.


ASSUNTOS EM PAUTA


As licenças ambientais quanto aos eventos festivos a se realizarem:  no  Parque de Exposições Zezé Botelho e no Parque dos Produtores Rurais;  religiosos;  rurais;  especiais – Réveillon, Carnaval, Festa de São João; utilização de som em estabelecimentos urbanos (bares); propaganda ambulantes; veículos equipados com aparelhos sonoros para deleite, sem fins comerciais.

Levantado os casos e a premente necessidade de implementar o disposto no Código Ambiental do Município, em leis Estadual e Federal concernente ao assunto, decidiu-se distribuir a todas as entidades envolvidas, cópias da Normativa nº 01/2017 e da ata de reunião conjunta, da mesma data, versando sobre o assunto com a finalidade de colher sugestões para a atualização da Norma Deliberativa e tomar outras providências pertinentes. Participaram da reunião conjunta: Prefeito Municipal, Secretário Municipal de Meio Ambiente Secretário Municipal de Obras, Transporte e Urbanismo,  Codema,  Ministério Público do Meio Ambiente,  Polícia Ambiental, Polícia Civil e representante da Câmara Municipal.

Deliberou-se realizar um segundo encontro para debater apreciar as sugestões que forem apresentadas e, consequentemente, editar nova Norma Deliberativa sobre a regularização da poluição sonora no município.

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


Sexta parte


O LUNDU


O lundu é uma dança extremamente sensual com muita volúpia, engodos, leveza e trejeitos.  Ela é origem africana, trazida pelos escravos bantos. Ganhou os salões da nobreza e depois foi se descaracterizando, dando lugar a outras danças locais, perdendo o nome como registra Câmara Cascudo: “Vive como uma modalidade faceciosa de canção, porque a coreografia evoluiu para o samba, solto, individual, sacudido, enfim a batucada, onde cada bailarino é um competidor da execução anterior”. São Francisco guarda os princípios da evolução: homens e mulheres forma uma grande roda, cercando os tocadores assentados em bancos. Batendo palmas acompanham os puxadores das modas e, no final de cada canto, um homem se desloca para o centro da roda vai sapateando, batendo palmas e rodopiando até chegar defronte a uma mulher escolhida, que chama, batendo palmas bem perto do seu rosto. Ela entra na dança com toda leveza, rodopiando, com as mãos prendendo a saia, sapateando graciosamente, sem muito vigor. O dançador se desdobra em graças, fazendo-lhe volteios, sapateando, trocando passos no ar e no chão, com muitas negaças e volúpia juntar-se à ela, que o desdenha. O ritual vai se repetindo com outros pares, varando a noite com toda alegria.

Com o tempo surgiram algumas novidades, reflexo da criatividade dos dançarinos. Adão Barbeiro criou as danças do facão e da garrafa. A primeira uma modalidade exige muita destreza e cuidado, pois o ritmo que tradicionalmente era marcado com as palmas, se faz com o brandir de dois facões, sobre a cabeça e entre as pernas enquanto os pés, no mesmo ritmo fazem as evoluções da dança, com o sapateado. A da garrafa, mais simples, só exige equilíbrio, pois toda a evolução da dança, com os sapateados e palmas, é feita com uma garrafa de água na cabeça.

Muito apreciada no lundu é a harmonia do instrumental, que flui com naturalidade de uma orquestra ensaiada e afinada. A melodia guarda tantas recordações telúricas recordações como sopro da alma.  As caixas são afinadas com a corda lá do violão. São tocadas com suavidade tal, que mal se percebe o seu gemido dando sustentação às violas, rabecas e violões. Os violões fazem a marcação do ritmo e as violas serpenteiam no floreado frenético de dedos ágeis e no fundo, os gemidos fechando os acordes, como um lamento, a rabeca. Entra-se em horas a fio, com os cantos e sapateados, as palmas fortes bem marcadas e uma alegria singela, pura, de quem vive a vida na sua forma mais natural e simples, sem pressa, sem preocupações, sem o dia do amanhã, só em estado de graça.

sábado, 15 de março de 2025

ESTUDANTES EM FESTA

 Mens sana in corpore sano – Juvenal


Na terça-feira 13 foi realizada a solenidade de abertura dos Jogos Estudantis de São Francisco, na Praça de Esportes. Foi composta a mesa de honra pelo prefeito Miguel Paulo, secretários João Hebber, da Cultura e Esportes, Francine Nobre da Educação; de Governo César Botelho, da Administração e finanças Ronaldo, José Botelho Neto, da Agricultura e Andressa Vieira Rodrigues, da Saúde.  vereadores Ramiro da Colônia, Geraldo Quilombola; Révio Humberto e Stefane Gangana – presidente e vice-presidente da subseção da OAB de São Francisco; e representantes do Colégio Plano e Escola Cívico Militar José D´Ávila Pinto – compondo a Mesa.

Falaram, na ocasião o prefeito Paulo Miguel e o secretário de Cultura e Esportes saudando os diretores e diretoras das escolas, professores e em especial aos atletas, e destacando a importância daquele evento e o apoio da administração municipal com todo empenho.

A cada ano sem realizados os Jogos Estudantis a nível municipal, estadual e nacional em que, em diversas versões, destacaram-se atletas mirins de São Francisco. Uma semana de efervescência na Praças de Esportes e nas quadras esportivas das escolas onde são realizados os jogos com diversa modalidade: Handebol masculino/feminino, Futsal masculino/feminino 

Vôlei feminino/masculino, Basquete masculino - módulos l e ll.

Na semana que se encerra a cidade foi tomada pelo alarido e intensa movimentação de estudantes, uma verdadeira festa que vai além pois a realização dos jogos pelos jovens possibilitam a identificação de talentos esportivos nas escolas; contribuir para o desenvolvimento integral do aluno como ser social, autônomo, democrático e participante, estimulando o pleno exercício da cidadania; promove alegria e ensinamento aos estudantes

Sem dúvida uma grande festa que mereceu toda a atenção da Secretaria Municipal de Cultura e Esportes.

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo -  Membro da Comissão Mineira de Folclore


ARTESANTO


É muito rica e interessante a atividade dos artesãos no município. Destaque para o artesanato do barro e da madeira.

No artesanato de barro destaca-se a comunidade de Buriti-do-Meio famosa na fabricação de potes, moringas, e outras peças ornamentais.

Na madeira destaque para os fabricantes de instrumentos musicais – viola, rabeca, violão e caixas. São famosos muito além de São Francisco: Minervino Gonçalves Guimarães (vende instrumentos para Paraná, São Paulo, Brasília e Nordeste) e Nego de Venança e Joaquim Goiabeira, todos focalizados em publicações especializadas.

Trabalho de madeira, ainda digno de menção, é da fabricação de carranca e miniaturas: Zinho, Luz Neto, Mendes com excelentes trabalhos.

Existem ainda, como expressão significativa, o trabalho das bordadeiras – famoso foi o bilro da comunidade Barreira dos Índios.


ALIMENTAÇÃO


A fundação de São Francisco e sua povoação, em princípio, ocorreu em razão das correntes migratórias de nordestinos. Ocorreu uma grande a influência no município  de famílias oriundas da Bahia, Pernambuco,  Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. O grande caminho foi o rio São Francisco, pela navegação ou pela estrada baianeira, por onde passavam os viajores ou retirantes em busca do Sul (São Paulo) muitos ficando e plantando raízes em São Francisco. Outro caminho veio da região do vale do Gorutuba desbravado por Antônio Figueiras, companheiro de campanhas de Matias Cardoso (fundou a fazenda Formigas, hoje Montes Claros) aí os costume nordestinos prevalecerem no município e, entre eles a alimentação. Outro fator, naturalmente, foi o de ser a cidade intimamente ligado ao rio São Francisco e sua população, ter como alimentação especial os pratos do peixe. 

Observa-se, também, que em razão das condições locais, a alimentação é mais rica em carboi-hidratos, proteínas e pobre em vegetais (verduras).

Comidas típicas do município: Peixes:  cozidos, fritos, assados; com abóbora; muqueca, etc. Carne: de-sol, seca, cozida, assada, frita, farofa, com mandioca frita; picadinha, misturada no arroz ou feijão (dos tropeiros). Mandioca: cozida, frita, assada, misturada com carne. Seus derivados: tapioca, croeira e puba (beiju, bolo, mingau). Milho:  mungunzá, cuscuz. Abóbora: diversos pratos. Feijoada

Do cerrado ou mata de transição uma variedade muito grande de frutas, destacando: pequi, cabeça-de-nego, umbu e baru.



AINDA SOBRE O DIA DA MULHER

 Não sou um pássaro, e não fui presa em uma armadilha

Sou um ser humano livre com minha vontade independente – Charlotte Brontë



Em plena Era Vitoriana (1837/1901) quando a situação era severamente aflitiva para as mulheres, uma voz se destacou a favor delas, ainda que usando a bandeira dos homens. Foi a voz de Charlotte Brontë, que para publicar seus livros viu-se na contingência de adotar um nome masculino, Currer Bell. A respeito dessa imposição, da época, ela escreveu: “Tem-se a crença que as mulheres, em geral, são bastantes calmas, mas as mulheres sentem as mesmas coisas que os homens. Precisam exercitar suas faculdades e ter um campo para expandi-las, como seus irmãos costumam fazer. Elas sofrem uma restrição tão rígida, e de uma estagnação tão absoluta, como os homens sofreriam se vivesse na mesma situação. É um pensamento estreito dos seres mais privilegiados do sexo masculino dizer que as mulheres precisam ficar isoladas no mundo para fazer pudim e cerzir meias, tocar piano e bordar bolsas. É fora de propósito condená-las, ou rir delas, se elas desejam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinava que fosse necessário para pessoa de seu sexo”.

As conquistas das mulheres para ocupar equivalente papel na sociedade têm sido uma epopeia. Um marco expressivo aconteceu no dia 8 de março de 1917 numa sublevação de operárias russas, que deu origem ao Dia Internacional da Mulher. Cento e oito anos depois ainda há um clamor buscando dar à mulher o seu verdadeiro papel na história da humanidade. Há, ainda, muitos preconceitos, discriminação e atos de subjugação enraizados em costumes e sistemas sociais radicais que colocam as mulheres em segundo plano. É de se estranhar que a maior discriminação ocorra em países cujas bandeiras ideológicas são defendidas em nossa Pátria. 

O que se tem como realidade é que as mulheres têm demonstrado seu valor em todas os campos da atividade humana. No caso, no desempenho de várias funções, muitas arrostam enormes e pesados sacrifícios para, ao mesmo tempo, exercer a mais sagrada missão que a ela coube por circunstâncias naturais e abençoadas por Deus: ser mãe. E mais é o seu papel como mestra, figura indelével por parte de todos que passaram por bancos escolares nos anos primeiros. Mulheres que morando em cidade grande arrostam enormes sacrifícios, saindo de casa ainda de madrugada, às vezes tomando dois transportes (ônibus), para lecionar em bairros afastados e ainda se mantendo como pilar de uma família. 

Lutas e conquistas à parte há uma verdade insofismável: a humanidade só existe porque existe a mulher.