Nota: Esta monografia será dividida em capítulos,
mais curtos, para uma melhor leitura.
Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro
EM BUSCA DAS ORIGENS – XVI
“À memória do notável Domingos Diniz o barranqueiro mais amante que amante do Rio São Francisco e a sua gente, e das veredas”
ERA DOS VAPORES
O vapor apitou – a cidade
estremeceu na alegria de sua chegada;
O vapor apitou – a cidade
chorou na saudade de sua despedida – JNM
A história
de São Francisco está intimamente ligada ao Rio São Francisco – vital e
sentimentalmente. O escritor são-franciscano Geraldo Ribas cunhou uma frase
lapidar que expressa esta íntima ligação: “O
são-franciscano tem o umbigo ligado no Rio São Francisco”. De fato, revendo fatos relacionados a diversas
famílias são-franciscanas, veremos histórias ligadas ao rio e, em caso
especial, aos vapores. Muitas famílias aqui plantaram raízes migrando de
distantes plagas nordestinas, aportaram com certeza definida ou por obra do
acaso como aconteceu, especialmente, com João Próbio e seus versos pictóricos
sobre sua vinda para São Francisco.
São
Francisco não teve referência especial na história das barcas em vista de não ter
se destacado em valor econômico como São Romão e Salgado (Januária),
interessantes e movimentados portos com intensa movimentação de importação e
exportação de diversos produtos. Salgado exportava rapadura, cachaça e couro e importava, entre
outros produtos, o sal que era comercializado com Goiás. São Romão abria a
porta para Paracatu pelo rio do mesmo nome, com embarcações levando sal e arame
e outros produtos que provinham do Nordeste e de lá transportando carne e couro.
Com os vapores, no entanto, São
Francisco tornou-se ponto registrado no mapa da navegação. Regularmente
aportavam vapores na cidade, o que era sempre motivo, além da atividade comercial, para integração social e muita
festa. São muitos os registros que veiculam os
vapores à história de São Francisco.
Lembro-me
bem do vapor no porto da cidade. Dia ou noite; sol ou chuva, lá estava o agente
seu Massu (Maximino Magalhães) na azáfama atividade do cargo. No cais, uma
multidão deslumbrada ou atenta à comercialização. Meninos, mulheres e homens,
com suas mercadorias, muitas dos agrados de viajantes e tripulantes: doce de
buriti, queijos, requeijões, tapioca, umbus, pequis, artesanato – de barro e
pano. Do vapor a oferta de redes, de pedras para forno de farinha, pedras
filtro de água.
A
viagem a bordo deles era fator de sociabilidade – só quem foi embarcado pode
expressar a emoção vivida. Eu, por minha vez, numa viagem pelo Antônio
Nascimento, de Pirapora a São Francisco, vi-me em profícuo interlóquio com um
jovem francês (também eu muito moço à época). Por horas ele me falava sobre a
França e tudo queria saber de mim sobre o Brasil.
Domingos
Diniz, Ivan Passos Bandeira da Mota e Ângela Diniz, no belíssimo livro Rio São Francisco – Vapores
& Vapozeiros, trazem a lume a história dos vapores na navegação do São
Francisco – 45 deles singraram as águas do rio durante décadas até que os
transportes rodoviário e ferroviário avançaram e, o mais triste, o rio São
Francisco tornou-se impossível à navegação totalmente assoreado.
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