Nota: Esta monografia será dividida em capítulos,
mais curtos, para uma melhor leitura.
Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro
EM BUSCA DAS ORIGENS – XVI
O CAMINHO PELO RIO
Inaugura-se
uma nova era – povoamento das barrancas e a navegação pelo rio São Francisco,
que se tornou a via comercial das Minas com a Bahia. Canoas a princípio, depois
as barcaças, intensificando a navegação ligando Pirapora a Juazeiro, abrindo
uma linha interligando o Sul e o Norte
dando ao rio um papel importante na integração do Brasil, lembrando Geraldo
Rocha quando afirmou que o “O Rio São Francisco, fator precípuo da existência
do Brasil”. As barcaças, em princípio, tiveram um papel importante como meio de
transporte de mercadorias dando proeminência
a São Romão e Januária que tiveram movimentados portos.
Chegando-se
ao século XVIII observa-se importantes
mudanças sociais e econômica na região do Médio São Francisco. Zanoni Neves anota
o que “Sob o impulso do desenvolvimento
comercial, alguns povoados foram fundados ao longo da ribeira. Outros como Barra do Rio das Velhas, São Romão, Salgado e
Matias Cardoso cresceram sob o influxo das articulações regionais e
inter-regionais”. Surgem, então, as barcas que tinham como principais
atividades o transporte de cargas e o comércio ambulante no curso de Juazeiro a
Pirapora. As barcas eram importantes na vida econômica dos habitantes das
cidades e vilas. Os donos de vendas, ou seja, os pequenos comerciantes de secos
e molhados, eram clientes das barcas, onde compravam a rapadura, o sal, a
farinha, o feijão, o arroz, a carne seca, o açúcar, a cachaça, o querosene. E
mais, havia barca onde se podia comprar tecidos, adornos para as residências, produtos
de ourivesaria, carretéis e novelos e calçados.
A par
do fator econômico registra-se que os remeiros legaram ao folclore um acervo
significativo, sobretudo no campo da literatura oral, como registrado por Zanoni: “poesia,
música, casos, contos, mitos e lendas, anedotas e outras narrativas, como o
milagre de Bom Jesus da Lapa foram difundidos em toda a região são-franciscana
pelos navegantes das barcas”.
No
estudo sobre o papel das barcas na história do Médio São Francisco, quanto a
fator socializante, econômico e cultural, recomendo a leitura dos livros Os
Remeiros do Rio São Francisco, do mestre Zanoni Neves e São Francisco – o rio
da unidade nacional, editado pela
Mercedes-Benz do Brasil S.A. É uma oportunidade interessante para conhecer como
era extremamente penoso o trabalho dos remeiros na condução das barcas em
viagens que poderiam se prolongar por mais de 4 meses; a interação social deles
com as mulheres barranqueiras nos prostíbulos, a sua valentia e a maneira como
eram tratados – discriminadamente – pela
sociedade das cidades onde aportavam as barcas. E mais, vale a pena – e muito –
ver o belo trabalho fotográfico do
francês Marcel Gautherot – Retratos da Bahia, com texto de Lélia Coelho.
Trata-se de uma verdadeira obra de arte.
Os
vapores terão o registro do nosso sentimento no próximo capítulo.
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