Nota: Esta monografia será dividida em capítulos,
mais curtos, para uma melhor leitura.
Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro
EM BUSCA DAS ORIGENS – XI
Chegamos à história do negro no Brasil e, consequentemente, ao fio da nossa etnia. Então, somos levados a ultrapassar a antropologia detendo-nos a um aspecto singular, o que certamente mais fala do negro em nossa formação: a sua personalidade, à sua alma. Recorri, então, em primeira linha, ao fantástico livro Mãe África de Fidêncio Maciel de Freitas renomado engenheiro, que reside atualmente em São Francisco, onde tem uma criação de búfalos e cabritos, e laticínio, fabricando a apreciada mussarela. Sua trajetória profissional é variada, eclética e, de certa forma, curiosa. Como engenheiro profissional, com reconhecimento internacional, trabalhou no Iraque e Irã, mas sua maior experiência foi na África vivendo na República Camarões por mais de quatro anos como diretor de uma grande construtora brasileira. A enorme curiosidade fez com que ele se interessasse apaixonadamente pela África, o que o levou a escrever o livro Mãe África revelando religiões, crenças e costumes africanos com singularidade e honestidade – uma obra apaixonante de imenso valor histórico e cultural.
Na apresentação do livro, ele delineia
o seu conteúdo fundamental: “Nada mais ultrapassado do que discutir superioridades
raciais. Os homens são iguais, embora as culturas sejam diferentes. Usando uma
linguagem moderna podemos dizer que o homem é uma máquina viva, dotada de um
computador. E o que diferencia um indivíduo do outro não é a máquina, nem o
computador, mas o software instalado em
cada um. Este software é a cultura da pessoa, no seu sentido mais amplo.
Acrescente-se a esta definição materialista o sopro de Deus, já que o homem é
um ser religioso, mesmo que, às vezes, possa não aceitar esse fato”.
Ainda apresentando o livro, ele toma palavras de Gilberto
Freyre (Casa Grande & Senzala) uma verdadeira ode referencial à nossa
etnia. “Todo
brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e
no corpo (...), a sombra, ou pelo menos a pinta do indígena ou do negro (...) A
influência direta, ou vaga e remota do africano. Na ternura, na mímica
excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no
andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão
sincera da vida trazemos quase todos a marca da influência negra da escrava ou
sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela
própria amolengando na mão o bolo de comida. Da negra velha que nos contou as
primeiras histórias de bicho e de mal assombrado. Da mulata que nos tirou o
primeiro bicho de pé de uma coceira boa, da que nos iniciou no amor físico e
nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de
homem, do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo”.
É
uma boa indicação para cumprir o nosso intento.
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