sábado, 23 de dezembro de 2023

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

  Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS - IV


Razões óbvias*, como veremos em posteriores capítulos, levaram-me a dedicar mais espaço ao desenvolvimento da pecuária na região do São Francisco. Além do trabalho no engenho e outras finalidades, a criação de gado era, também, atrelada à exportação de tabaco, como registrou André João Antonil,  em 1711: “Para que se faça justo conceito das boiadas que se tiram cada ano dos currais do Brasil basta advertir que todos os rolos de tabaco que se embarcam para a qualquer parte vão encourados e sendo cada um de oito arrobas, e da Bahia a  cada ano pelo menos vinte e cinco mil, e dos das lagoas de Pernambuco dous mil e quinhentos, bem se vê quantas reses são necessárias para encourar vinte e sete mil e quinhentos rolos.” (Cultura e opulência do Brasil). E mais: boiadas  eram retiradas para as cidades, vilas e recôncavos do Brasil, para o açougue, fábricas e fornecimento de leite.

Antonil, em seu estudo destaca a pujança do setor, como valor econômico e sua influência na expansão da Colônia:  “A casa da Torre (da família de Antônio Guedes de Brito) tem duzentas e sessenta léguas pelo rio São Francisco, acima à mão direita, indo para o sul, e indo do dito rio para o norte chega a oitenta léguas (...) do Morro do Chapéu (Bahia) até a nascença  do Rio das Velhas, cento e sessenta léguas. E nestas terras, parte os donos delas têm currais próprios, e parte são dos que arrendam sítios delas (...) E, assim, como há currais no território da Bahia e de Pernambuco, e de outras capitanias, de duzentas, trezentas, quatrocentas, quinhentas, oitocentas e mil cabeças, assim há fazendas a quem pertencem tantos currais que chegam a ter seis mil, oito mil, dez mil, quinze mil e mais de vinte mil cabeças de gado, donde tiram cada ano  muitas boiadas, conforme os tempos são mais ou menos favoráveis à parição e multiplicação do mesmo gado e aos pastos assim nos sítios como também nos caminhos.”

A pujança da atividade pastoril na região do São Francisco  em  era mais recente, tem o registro da fazenda da lendária Joaquina de Pompéu, denominado um “Principado”  pelo barão Georg Wilhlem Freyreiss, no final do século XVI. Era um assombro a extensão da fazenda, uma área representada, atualmente, pelos municípios de Pompeu, Abaeté, Dores do Indaiá, Paracatu, Pitangui, Papagaios, Maravilhas e Martinho Campos. Com sua morte, em 1824, ela deixou para seus herdeiros um milhão de alqueires de terra, 53.932 reses de cria, 9 mil éguas, 2.411 juntas de bois.

Joaquina de Pompéu e tantos outros criadores de gado escreveram parte da história do Brasil, demonstrando o que representou a atividade rural e a criação do gado.

·         O município de São Francisco, em tempos mais recentes tinha o quarto rebanho bovino do Estado de Minas Gerais.


sábado, 16 de dezembro de 2023

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro


EM BUSCA DAS ORIGENS - III

A criação de uma nova nação ganhava forma, ainda que atrelada à Europa (governo em Portugal e o comércio com outras nações). Como anteriormente destacado, favoreceu o desenlace a implantação da cultura da cana e do tabaco ocupando vastas áreas na região do Nordeste, especialmente Bahia e Pernambuco, e o café no sul, regiões litorâneas. Então como se deu o avanço rumo ao interior chegando à região do rio São Francisco? Celso Furtado em citação  de Francisco M. P. Teixeira e José Dantas analisou o fato: “Ao expandir-se a economia açucareira, a necessidade de animais de tiro tendeu crescer mais que proporcionalmente, pois a devastação das florestas obrigava a buscar a lenha  a distância a cada vez maior. Por outro lado, logo se evidenciou a incompatibilidade de criar gado na faixa litorânea, isso é, dentro das próprias unidades produtoras de açúcar. O conflitos provocados pela penetração de animais nas plantações devem ter sido grandes, pois o governo português proibiu finalmente a criação de gado na faixa litorânea. E foi a separação das duas atividades econômicas – açucareira e criatória – que deu lugar a uma economia dependente na própria região nordestina”(História do Brasil da Colônia). Traçava-se a origem de São Francisco.

            Pelo Sul a penetração dava-se com as bandeiras – a procurara de pedras preciosas e índios para o cativeiro – os mineradores e as Missões. A importância das bandeiras neste processo de interiorização, levando-se à fundação de aldeias, foi bem definida  por Gilberto Freire: “Bandeiras, sociedade em movimento”.

            Desenvolvia-se a Colônia com gentes que se subdividiam entre os colonizadores, nativos e negros. Fernando A. Novais descreve o fato: “E do convívio das inter-relações desse caos foi emergindo, no cotidiano, essa categoria de colonos que, depois, foi se descobrindo como ‘brasileiros’. Brasileiros, como se sabe, no começo e durante muito tempo designava apenas os comerciantes de pau-brasil. A percepção de tal metamorfose, ou melhor, essa tomada de consciência  – isto é, os colonos descobrindo-se como paulistas, pernambucanos, mineiros, etc. para afinal identificarem-se como brasileiros – constituindo, evidentemente, o que há de mais importante na história da Colônia, porque situa-se no cerne da constituição da nossa identidade.” (História da Vida Privada no Brasil)

            À distância, no tempo, encontram-se as raízes da etnia do são-franciscano, como destacaremos  posteriormente. 



sábado, 9 de dezembro de 2023

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro


EM BUSCA DAS ORIGENS - II


Buscando chegar a São Francisco, entendo ser necessário um comentário, ainda que sucinto, sobre as raízes da brasilidade. Vejamos.  Na primeira questão imposta à Coroa portuguesa, a respeito da descoberta do Brasil, acentua João Ribeiro: “O reinado de D. Manuel escoou-se inutilmente para a terra; mas já nos últimos anos, atenta a pirataria dos traficantes  de pau-brasil, malgrado o monopólio português impunha-se uma das duas alternativas: ou colonizar a terra ou perdê-la” (História do Brasil). Decidiu-se pela colonização implantando-se  as capitanias e a exploração econômica – cultura da cana para a produção de açúcar, importante moeda de troca no mercado internacional, e o tabaco. No segundo momento da colonização divisamos um longo caminho, marcado pela ignomínia da escravidão de nativos e de negros da África para o duro trabalho nos eitos de cana e outros serviços (em capítulos posteriores abordaremos o papel dos negros e dos índios no processo sob a  ótica de expressivos pesquisadores). Dessa tragédia foi sendo formada a etnia brasileira. O negro, segundo A. Souto Maior: “os portugueses já usavam o negro como escravo antes da colonização do Brasil. (...) É provável ser costume árabe de escravizar negros e vendê-los; (...) a própria organização social dos  negros facilitava aos seus captores o nefando comércio; a escravidão era a penalidade imposta pelos juízes da tribo para os mais diversos delitos.(...) Comprava-se por miçangas de vidro, panos baratos, facões, fumo e cachaça. (...).Tomado em conjunto, porém, o negro agiu na formação étnica social e econômica do Brasil como agente de transformação  poderoso (...)com influência na cultura brasileira:  na música; no samba e o maracatu; formação do folclore, a contadora e criadora de histórias infantis. Na culinária: o uso do azeite-de-dendê e do leite de coco, vatapá, caruru, acarajé, mugunzá, tudo de origem africana” (História do Brasil).

Os índios tiveram melhor sorte. Não estavam acostumados ao trabalho agrícola estável, sedentários que eram; além disso, contava com os esforços dos jesuítas em favor da manutenção de sua liberdade, conseguindo junto à Coroa a proibição de sua captura. Contudo, vítimas da perseguição dos senhores de engenhos e de tropas de bandeirantes, eles se dispersaram. Os caiapós deixaram o Maranhão, transpuseram o rio Carinhanha estabelecendo-se na zona do Japoré; outra horda da mesma geração, procedente do Alto Tocantins, se estabeleceu na zona entre os rios Paracatu e Urucuia. Dois ramos da mesma família constituíram um variado ligame de aldeias no vale do São Francisco, a Tapiraçaba e a Guaíba – essas aldeias têm ligações germinais  com a história de São Francisco. Observa Souto Maior, que “o índio, na língua, deixou-nos  quase toda  nossa toponímia e uma infinidade de termos designativos de alimentos, árvores e animais. Tendo influído poderosamente em nossa etnia” (História do Brasil).


sábado, 2 de dezembro de 2023

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 

Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, mais curtos, para uma melhor leitura.

Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro




O engenheiro Teodoro Sampaio aportando-se em  São Francisco em 1877 fez o desenho da igrejinha de São José e do cruzeirinho – primeiro registro impresso da história de São Francisco.


EM BUSCA DAS ORIGENS - I


Em sucinta monografia, de caráter narrativo,  buscando resgatar fatos que possam compor capítulos esquecidos da história de São Francisco,  recorri ao jornalista italiano Índro Montalelli quando publicou o livro História de Roma alertando seus leitores:  “Escrevi para aprender. Este livro nasce com o mesmo espírito. Escrevi para aprender esta história. Não é livro de historiador, não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. O que há é uma sincera tentativa de contar uma história bem-contada e recuperar essa tradição que já existiu: uma crônica sobre o que a cidade foi e como veio a ser o que é. Advirto, ainda, valendo-me da observação de Fernando A. Novais: “Em história, não pode haver nunca a obra definitiva; tudo o que podemos aspirar são aproximações mais ou menos felizes. Estaremos gratificados pelo esforço se nosso trabalho puder considerar-se uma dessas aproximações”. ( História da vida privada no Brasil)

Este meu intento é uma prova de gratidão pela generosa acolhida que tive em São Francisco, na minha mocidade, honrando-me, ainda, com o título de Cidadão Honorário de São Francisco. Nas buscas  de informações vi-me em um labirinto almejando o Fio de Ariadne, enfrentando intricadas e reduzidas publicações, muitas vezes um  quebra-cabeça, para encontrar o município de São Francisco. Nas minguadas publicações que encontrei sobre o Vale do São Francisco começo por Vicente Licínio Cardoso que, categórico, escreveu: “O São Francisco é um rio sem história”. (Às margens da História do Brasil). Na mesma linha pode-se observar que São Francisco é um município sem história, malgrado o livro de Brasiliano Braz, que ele mesmo classificou como autobiográfico. Sobre São Francisco, ainda como Pedra dos Angicos e Vila de São José de Pedras dos Angicos, encontramos sucintos aprontamentos de Richard Burton, Teodoro Sampaio, Carlos Lacerda, juiz Carlos Otoni e Diogo de Vasconcelos. Tal fato parece não fazer falta, pois nada é reclamado a respeito o que se distancia da advertência de J.J. Benitez: “Existirão fronteiras intransponíveis entre o passado, o presente e o futuro? O passado já não existe senão como memória? O presente se extinguirá como passado? E o futuro já existirá neste momento?”. (Cavalo de Troia). Buscando respostas, como se encontra São Francisco no ponto de vista histórico, é preciso intervir criando laços atemporais entendendo o passado e trabalhando o presente na expectativa do futuro com realizações plausíveis no campo do desenvolvimento e do fortalecimento de sua cultura.

Conquanto possa não parecer de suma importância, merece uma reflexão a respeito da história, pois revendo os acontecimentos que marcaram a trajetória do nosso País, desde sua descoberta e a colonização, muitas e boas lições podem ser extraídas para melhor conduzirmos nossos destinos.