João Naves de
Melo
São
tantas as oportunidades que temos para sentir e apreciar a natureza que, a cada
dia, somos tocados por um novo painel: o nosso rio São Francisco, os pássaros,
nossos jardins e o pomar. Encontram, nos mínimos detalhes, manifestações que
suscitam emoções, que nos levam aos meios disponíveis para transformá-las em
realidades, deixando-as com registros através da escrita e da fotografia.
Fui,
assim, movido pelo desejo de registrar alguns trabalhos que fiz neste campo,
compartilhando com meus amigos e possíveis leitores, o que tenho vivido no dia
a dia. Saliento que algumas crônicas e poesias já foram publicadas
ocasionalmente, ora no Portal Veredas, ora enviadas aos amigos através do WhatsApp. Resolvi, contudo fazer esta pequena coletânea
para o registro escrito.
UM RIO ESQUECIDO
O barranqueiro tem a alma plantada no rio São Francisco (Saul Martins)
Outubro, dia 4 de 2022.
Meu rio São Francisco, contemplo-o viajando no tempo nas ondas da emoção.
Reflito: abençoada graça do Criador guiando Américo Vespúcio ao encontro de um
imenso caudal beijando o mar no dia do
santo amigo das águas, do Sol, da Lua, dos pássaros, dos peixes e dos humildes
– São Francisco de Assis – 1501. E ao rio descoberto deu-se o nome do santo,
que abençoado ficou descendo das
alterosas, serpenteando planícies, banhando nosso sertão. Aqui estamos, São
Francisco, quinhentos e vinte e três anos depois do seu batismo pelos olhos dos
homens “civilizados”, tirando-o do
estado virginal. Quantas histórias, São Francisco, e somos parte delas – nossa
cidade, nasceu e cresceu graça a você com famílias singrando suas águas, aqui
aportando e depositando suas esperanças – uma nova civilização surgiu. E você,
no seu caminho, em São Francisco, fez uma obra de arte demonstrando mais amor
por ela: você abraçou o penedo luzidio onde ela foi plantada e deu-lhe o seu
nome. Deus seja louvado, sempre!
Saul Martins cunhou que o
barranqueiro tem a alma plantada em suas águas. O conterrâneo Geraldo Ribas
escreveu que o são-franciscano tem o umbigo plantado em suas águas. É deverás.
É grande a relação sentimental, física e espiritual.
Infelizmente, ao passar de
cada página de nossa história, temos que você, para o são-franciscano, está
perdendo seu valor histórico, sua importância hídrica (seus afluentes foram
devastados), e até mesmo a relação social, quando o eixo das concentrações da
cidade deixou as barrancas para lustrar
as áreas do alto. Quantas cidades gostariam de ter um São Francisco! Vê-se isso na temporada de
praia, quando centenas de turistas de cidades da região aqui vêm regalar-se com
sua beleza. E aqui? O desprezo. Nem se fala sobre a lamentável situação de
abandono da orla, o pouco caso, o desinteresse com ela, que sequer guarda seu
aspecto virginal.
São Francisco, São
Francisco! Nem um gesto, nenhuma manifestação, nenhum agrado, nenhuma palavra a
respeito de seu aniversário. O fulgor das festas de anos idos e os movimentos
em prol de sua defesa, de sua exaltação, diluíram-se. Esquecido. É triste. Pelo
ralo escoa-se a cidadania. Amanhã há de se pagar por isso, aliás, já estamos
pagando – não só em relação ao rio, mas pela falta de compromissos com o
Brasil, descuidando-se de valores morais que implicam na formação de uma
sociedade.
São Francisco, na tarde do
dia 4 deitei os olhos em suas águas singradas por barcos, movimentando suaves
maretas, que beijavam as pedras dos cais, cantando – a sua canção própria:
parabéns! Fiquei, por ali, por bom tempo, meditando, mergulhado em sua
história. Pouquíssimas pessoas passaram por ali naquele momento, nenhuma
fotografia. Solitário, mas com o coração agradecido por sua existência, São
Francisco, elevei uma prece ao Criador agradecendo-O por tão generosa dádiva.
Deus o abençoe, sempre. Obrigado por nossa existência em suas barrancas.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O AFRESCO DA ÚLTIMA CEIA
Quem comer deste
pão viverá eternamente”
A
Última Ceia,
afresco de Leonardo da Vinci para a igreja de Santa Maria delle Grazie em
Milão, retrata um momento da vida de Jesus, que se faz presente no dia a dia dos
cristãos: instituição da Eucaristia – “Quem comer deste pão viverá eternamente”...
Interessante é conhecer esta obra pela
profundidade que vai além do seu encanto
enquanto arte – rememorando um dos momentos de angústia de Jesus e da perplexidade de seus
amigos quanto à fraqueza humana revelada pela traição.
A edição Planeta Barsa/Patrimônio da
Humanidade, descreve algumas passagens interessantes sobre a obra dando a
conhecer um sistema de trabalho de Leonardo: antes de pintar ele realizava
enorme quantidade de apontamentos e esboços de cada pormenor. Às vezes ele
passava um dia sem se alimentar,
absorto, observando a parede onde pintaria o afresco atrasando a execução da obra. Tal
procedimento exasperava os frades da Catedral de Milão, levando o prior a
pedir, insistentemente, pressa na
conclusão da obra e a reclamar junto ao
duque de Milão, Ludovico Sforza. Questionado, Leonardo justificou que precisava
de modelos para Cristo e para Judas; para o primeiro por ser difícil que alguém
deste mundo mostrasse no rosto a beleza celestial, e para Judas, pela
dificuldade de encontrar uma pessoa que, apesar das graças recebidas, fosse
capaz de tal traição, de forma que, se o prior continuasse a pressioná-lo, não
teria outro remédio senão utilizá-lo como modelo.
A Barsa Planeta fixa na intuição e na
inspiração de Leonardo. “A obra
representa uma mesa virada para frente, sentando-se a ela Cristo e
doze apóstolos”. Observa que as pinturas anteriores, da Última Ceia
eram com personagens estáticas, sem vida, sem expressão, com Judas totalmente
isolado. Leonardo agrupa os apóstolos, lhes concede a magia do movimento e
consegue através da expressividade dos rostos e das mãos, que todos pareçam ter
capacidade de falar e de mostrar seus sentimentos. Mostra o espanto dos
apóstolos após Jesus pronunciar “um de
vós me trairá”. Quem? Atônitos passaram a perguntar esperando uma explicação. O
texto descreve e analisa a posição dos apóstolos: A primeira tríade à esquerda
é formada por Bartolomeu, Santiago Menor e André. Bartolomeu se apoia sobre a
mesa como se dissesse: “não é possível,
os meus ouvidos estão enganados”, enquanto seus companheiros levantam as
mãos assustados O segundo grupo é talvez o mais interessante. São Pedro se
precipita impetuosamente para são João, que está sentado ao lado de Jesus e
pelo caminho empurra Judas que, assim, fica separado dos outros. Aqui surge novamente a inteligência de
Leonardo, conseguindo isolar Judas sem a necessidade de o isolar
fisicamente. O traidor parece dizer “será possível, como soube ele?”. Do
outro lado de Jesus, Tomás, Santiago, o Maior, e Felipe se mostram confusos e
falam em uníssono como que pedindo um esclarecimento e manifestando sua
inocência. Na última tríade, do lado direito da mesa, estão Mateus, Tadeu
e Simão. É o único grupo que fala entre
si, sem olhar para Jesus, embora Mateus o indique enquanto sem dirige a Simão
que por sua vez parece explicar ou comentar alguma coisa com Tadeu. E fica por último
a figura central, Jesus, solitário, separado dos restantes com uma expressão
desolada e os braços estendidos numa postura de abandono, que faz realçar a força do mural. O ponto de fuga da
perspectiva está em Jesus. Cada forma, cada gesto, tem relação com Ele. Este
difícil problema de apresentar muitas figuras, mantendo porém a unidade
dramática e a unidade de formas, foi genialmente resolvido por Leonardo.
O AMANHÃ
Procure
no mundo reunir o que é de melhor, de bom, sem se lamentar pelo que seja
perfeito (Demócrito)
Somos no
espaço e no tempo a projeção do que fomos. Não temos a lembrança do que fomos,
mas podemos cultuar o presente para que nos projetemos no amanhã em estágio
mais elevado espiritualmente. Assim, busquemos uma lição de Demócrito: “Procure reunir no mundo o que há de melhor,
de bom, sem se lastimar pelo que seja perfeito”. Se há dor, sofrimento e
outras mazelas no mundo, o que se faz preciso é desprezá-las na busca do que
apraz o espírito, ver a vida como um dom do Criador que é misericordioso. São
tantas as belezas que nos cercam, que podem despertar a nossa atenção no correr
de cada dia e que, por carência, às vezes, de um pouco de sensibilidade e de
vida apressada, perdemos.
Uma das
vantagens (se é que se possa dizer de vantagem) que nos enseja a pandemia é a oportunidade
para redescobrir a natureza por força do isolamento, da restrição do
ir-e-vir. Pois vejam. Conquanto aprecie os pássaros – tantos e variados deles tenho no meu quintal,
porque os alimentos – raramente dispensava tempo à sua apreciação demorada. E o
quanto perdia em quadros que inspiram a manifestação de ternura, na mais pura
de suas expressões: delicadeza, doçura, brandura, suavidade, afetuosidade,
amorosidade, meiguice, afeto, enternecimento. Puxa! Que quadro suscitou-me
tanto sentimento? Simples, como simples e bela é a vida que nos foi dada pelo
Criador e que, por comum, desperdiçamos. Pois bem, vi e senti a ternura, nas
suas diversas expressões, no modo amorável e carinhoso de um casal de rolinhas.
Tão mimosas, tão meigas, com tanta dileção, em carícias trocadas roçando os
pescocinhos e com delicadas bicadas. Vi-as numa galho de ramagem viridente, com
flores ao fundo, como feliz casal de namorados. Demorei admirando aquele quadro
que suscitou outras presenças na contemplação. E tantos se comoveram diante da
delicadeza do quadro.
Outra
imagem que eu havia perdido, na apreciação, era a passagem do avião a jato no
nosso infinito céu azul. Sei lá por qual sentimento (guardado de tempos atávicos
ou de outra vivência) eu me apaixonei com o troar de suas potentes turbinas
do avião a jato reverberando na terra, levando-me a buscá-lo na sua passagem,
luzindo nas alturas à frente de um rastro de fumaça prateada. Eis que, de
repente, no meu quintal cuidando das plantas, redescubro-me, por sinestesia, no
passado urucuiano, quando num mundo tão solitário, tempo eu tinha de sobra para
visitar o céu. Lá, nas campinas bordadas de buritis dançantes na brisa dos
gerais, eu acompanhava a passagem dos jatos suscitando canções etéreas e vibradas no vasto campo
empíreo. Eis que, agora, visitando mais o céu para dialogar e agradecer a Deus
por ser parte da sua criação, revivo o antigo encanto: a canção do jato e seus
rastros, um véu prateado em linhas cumpridas bordando o azul do céu. Eles têm
vasado o céu são-franciscano com frequência.
AS ROLINHAS
Na
minha casa um nabo é mais saboroso do que o tordo... (Ariosto)
Um singelo ninho de se contemplar, no
compor das criaturas que o ocupavam,
Em
insólito lugar, no alpendre de minha casa, sobre o tampa de uma luminária,
escolheu uma rolinha para levantar seu castelo. Não me tomem como devaneador ao
comparar o singelo ninho de tão pequena ave com um castelo. É que não me prendo
à ordem material, na estrutura, mas na representatividade e alcance do singelo
quadro. O simples tem o seu valor pelo que tomamos, não pelo que os outros
pensam ou falam. Diz o poeta Ariosto: “Na minha casa um nabo é mais saboroso do
que o tordo, o faisão ou o porco na mesa alheia”. O que temos, então, é o nosso
tesouro. Nas representações mais simples podemos sentir a presença do Criador,
como Ele nos chega para florir a vida, transbordar de paz o coração. Sabemos
que a alma vital é comum em todos os seres orgânicos: plantas, animais e
homens. Naquela singela columbina pulsa uma alma, o princípio vital. Depois de
erguido o castelo, ali ela se assentou com serenidade, sem se importar com o
tempo estar passando, absorta, concentrada, extremamente dedicada ao evento que
preparava para o mundo: novas vidas. Não se abalava com o ir e vir das pessoas
nas imediações do seu castelo – era apenas o seu mundo, o seu tempo, o seu
apego e o que lhe reservara o Criador na Lei da perpetuação. E veio o glorioso
dia. Ela não alardeou, apenas pousou na doçura e placitude da maternidade.
Tempo não muito escoou e duas cabecinhas se mostraram nas janelas do castelo,
sob asas, protetoras olhando o mundo. E tão ligeiro foi que a mãe orgulhosa, em
pose imperial, as apresentou ao mundo,
satisfeita com a proteção do pai parte da criação. Vi, naquele quadro,
como se revela o amor, tanto no homem como nos animais. Com que desvelo,
carinho, cuidados e, por que não, felicidade, a nossa pequena rainha mostrava
suas crias. Tantos foram os dias em que ela levou a seiva da vida de seu bico
aos biquinhos das crias, uma por uma – lembrei-me de um quadro sagrado,
sublime, de uma mãe oferecendo o peito ao seu bebê, sua vida continuada, pouco
há que pode ser tão belo e amorável.
Na vida aprendemos tanto com as coisas
mais simples, se sensibilidade e atenção tivermos às coisas do Criador,
retendo-as na alma.
Simples, tão simples, uma rolinha e seus
filhos em tépido ninho, mas grandioso tendo que é a criação de Deus se renovando em nossa vida com a singela
mensagem do amor.
OS PASSARINHOS
Passarinhos do bom Deus,
pequenos pássaros alegres... (Dostoiévski)
No quintal do meu lar, antes
mesmo de ser construída a moradia, foram plantadas as primeiras fruteiras: pés
de manga e jabuticaba. O tempo foi passando e dona Vilma, logo chamada de “Dedo-verde”, cuidou de expandir o verde
chegando ao jardim. Ficamos ornados por
um mundo florido.
Passam-se os dias. Primeiro meus
olhos alcançam um casal de rolinhas desfilando, majestosamente, com tanta graça
pelo quintal. “Galinhazinha de Nossa
Senhora”, lembra Vilma buscando imagens de sua infância. É de se admirar,
tanto, a graciosidade da rolinha no seu passear pelo chão. Chegam os pardais,
em bando que agregários são. Barulhentos, saltitantes quando no chão; velozes
se no ar. Certa manhã ouço o dolente e saudoso canto do sabiá – que presente! A
passarada vem chegando e, admirado, deleito-me em cuidar dela levando-lhes
matinal alimento em forma de quirela. Sirvo-lhes água fresca. Abrem-se as
portas do céu e chegam em bandos: do-ré-mi, sofrê, canarinho, assanhaço, anus –
que só se apresentam em bando se protegendo e para caçar alimentos. Depois de
se alimentarem ganham a copa do viridente umbuzeiro a trinar, cada qual no seu
canto: uma orquestra alada de causar emoção. E depois, na madrugada o despertar
com os ais da pomba verdadeira, a nossa Paloma – queixumes ou chamados. Que
sei!
Nosso encontro diário vem de
muitas manhãs, faça-se sol; faça-se chuva. Foi sempre do meu gostar e até de
refletir o Criador, que se faz presente nas mínimas coisas. Foi então que,
nestes dias, aprofundando na leitura do romance Os Irmãos Karamázov de Fiódor
Dostoievski, dei-me com uma fala de Markel, que se despedia da vida devassa,
então se encontrando com Deus. E li, emocionado: “Passarinhos do bom Deus,
pequenos pássaros alegres, perdoem-me, pois eu pequei contra vocês também. (...)
Sim, eu estava cercado pela glória de Deus: os passarinhos, as árvores, os
campos, o céu; eu só vivia na vergonha, só eu desonrei tudo, não soube ver a
beleza nem a glória.”
Emocionado, pois vivo na glória
de Deus, quase às lágrimas, vi-me nos gerais urucuianos, no sopro da brisa,
embalado pela canção vinda das palmas dos buritis, sob a abobada celeste tão
pura, as caraibinha vestidas como anjos – floridas e perfumadas; senti minha
alma se elevar em prece e agradecimentos ao Criador por tudo que, então, tem me
proporcionado: a família, amigos, uma terra generosa para morar, um rio
majestoso trazendo-me a figura de São Francisco de Assis abençoando as águas e
nela todos os seres viventes; o nosso magnificente por do sol. Que riqueza
encontrar na natureza a revelação da maior essência de todas: Deus.
Meus passarinhos, obrigado, posso
amá-los e a natureza, ainda na minha vitalidade. Posso, sobretudo, com tempo,
sem aflições agradecer a Deus pela
dádiva do meu dia-a-dia.
REFLETINDO SOBRE UMA
FORMIGUINHA PERDIDA
O Ente Supremo não se
lhe manifestou já na Sagrada Escritura e sim em todas as coisas que havia
criado (Rudolf Thiel)
Distraído, enquanto ao sol buscava a reposição de vitamina D, por acaso
meus olhos alcançaram uma formiguinha perdida de sua colônia em carreira
solitária. Estranhei o fato perguntando a mim mesmo por que estava sozinha, em ligeira carreira sem direção se
vive em sociedade? Não havia outras formigas. Resolvi segui-la e isto foi por
quase 30 minutos. Ela andava em roda, seguia um percurso em uma direção e dava
voltas como se procurasse caminho. Andou e andou. Na verdade corria tanto com
agilidade incrível de suas
perninhas quase de se não notar.
Rodou e rodou por distância e tempos tantos, superiores para ela, e nada,
sempre sozinha e sem rumo. Mas não desistia, queria seu caminho, seu ninho,
exemplo de persistência. Enfim, ao longo dos 30 minutos, ela se enfunou debaixo
de uma pedra e lá se quedou. Seu ninho por certo não era, mas teve acolhida,
sei lá de quê.
Dizem estudos que a formiga está presente em todos continentes, exceto
nos polos. Estima-se que existem cerca de 18.000 espécies de formigas, das
quais 2.000 são encontradas no Brasil. Acredita-se que elas surgiram na Terra
durante o período Cretáceo (cerca 140 milhões de anos atrás) e, provavelmente
começaram a diversificar-se há 100 milhões de anos, acompanhando as linhagens
de plantas com flores.
Puxa! Refletindo enviei meu
pensamento muito distante, naturalmente em eras que sequer por mim foram
sonhadas e conclui que estava diante de um milagre da vida. Uma coisinha quase
de nada, correndo perdida em meu quintal, tem um papel vital muito, mas muito,
mais longevo que o meu, ou da minha espécie, a humana.
A! formiguinha, você me fez lembrar
que Deus se ocupa de todos os seres que criou, por menores que sejam, nada é
muito pequeno para a Sua bondade. Segundo ensina Rudolf Thiel (E a Luz de fez)
“O Ente Supremo não se lhe manifestou já na Sagrada Escritura e sim em todas as
coisas que havia criado”. Então, nesse Universo a pequenina formiga, quase de
não se ver, é parte deste universo criado, daí seu papel e importância na
natureza.
Enfim, ela me levou à sondagem de
Allan Kardec, que com lirismo discorreu “a sabedoria infinita que preside a
tudo, no admirável organismo de tudo o que vive, na frutificação das plantas, na apropriação
de todas as partes de cada ser às suas necessidades, segundo o meio onde está
chamado a viver; é necessário mostrar-lhes a ação de Deus no rebento da erva,
na flor que desabrocha, no Sol que a tudo vivifica; é necessário mostrar-lhes a
Sua bondade na Sua solicitude por todas as criaturas tão ínfimas que sejam, a
Sua previdência na razão de ser de cada coisa, da qual nenhum é inútil, do bem
que sai sempre do mal aparente e momentâneo!
Ah! Formiguinha, de aparência ser
coisinha de nada, você me conduziu, graciosamente, ao Criador!.
A LUTA DAS FORMIGUINHAS
O mundo sensível em que vivemos é o mundo das aparências
(Platão)
Peço
desculpas aos amigos por lhes ocupar o tempo com outra história de formiga. É que
aconteceu outra vez. Estava eu a tomar o recomendado banho de Sol, por dra.
Marilda, buscando a reposição de vitamina D,
quando meus distraídos olhos encontraram em disputa ferrenha duas
formiguinhas, criaturinhas de nada, de milímetros poucos, uma um pouco maior.
Curiosamente desejei saber quando
terminaria aquela batalha. Delas, uma era ligeiramente maior coisa de
quase não se medir. Estanquei a leitura,
que fazia para aproveitar o tempo, e me fixei nas duas formigas em luta
renhida. Em um momento a formiga maior prendia menor com suas patinhas
espremendo-a de costas no piso tentando ferrar a sua cabecinha. Eu entendia que
ela tentava arrancar-lhe alguma coisa que prendia na presinha. Depois, a
situação mudava: a formiguinha menor tomava a posição superior. E assim ficaram
digladiando por tempo – medi mais de 30 minutos. Ao fim de bom tempo, não
chegando elas a um termo, interferi. Com a ponta de uma caneta, separei as
duas. Surpresa: tratava-se apenas de uma formiga. Então como lutavam tanto, sem
trégua com meus olhos registrando o movimento? Deixei, então, a formiga no piso
e a luta teve reinício. Percebi, depois de um pouco de atenção, que a formiga
lutava contra a sua própria sombra. Por isso que uma (no caso quando eu
imaginava serem duas) não se separava da outra,
não fugia do embate. Ora, não teria como fugir da própria sombra.
Peguei, então, a formiga e a coloquei em uma mesa. Ela, livre da projeção de
seu corpinho criando uma sombra,
procurou sair do local e acabou por se despencar de uma altura de um metro e
saiu buscando um caminho, ainda que meio trôpega. Puxa! Uma altura formidável,
mas para minha surpresa ela saiu ilesa, caminhando. Fosse um homem, numa queda
de altura proporcional, teria os ossos esmagados.
O fato
levou-me a refletir. Primeiro sobre o efeito da sombra à primeira vista, sem
dúvida, uma ocorrência inexistente, pois, então, uma ilusão. Trata-se de um conceito ou de uma imagem que surge pela imaginação, um erro dos
sentidos, mas que não corresponde à realidade. Ligada aos sentidos, uma ilusão é uma distorção da percepção, uma interpretação visual
dos factos que não coincide com a realidade.
Outra
reflexão levou-me ao Mito da Caverna de Platão, onde se demonstra que homens
que estão no interior de uma caverna pensam
que o que veem é a realidade. Mas não é, eles veem apenas suas próprias
sombras. Com essa alegoria, Platão compara
a caverna ao mundo
sensível onde vivemos, que é o mundo das aparências.
Puxa, uma simulada luta de
uma formiguinha me pôs a viajar longe para concluir, como Platão que “o mundo sensível onde vivemos é o mundo das
aparências”.
Moral da história: cuidado
que se deve ter com o que vê e como
interpretar o que viu, pois opinião
baseada em uma aparência pode causar um
grande mal – mal, muitas vezes, irreversível.
SINGELEZA
OU GRANDEZA?
A Natureza é a grande
mestra do homem (Allan Kardec)
“Logo
que a aurora de dedos cor de rosa surgiu matutina”
deixei a tepidez do leito, como sempre faço; e ainda à luz cambiante dos amenos
raios do sol, que crescia no Oriente, cheguei ao quintal com o propósito diário
de colher algumas folhas de ora-pro-nóbis para preparar o suco verde de todas
as manhãs. Ao passar sob a copa de
frondosa mangueira dei-me de frente com cenário colorido que nunca vira antes.
Surpresa! Invadiu-me um suave aroma. Imaginei-me em sonho. Mas era real, estava
à frente do meu pé de ora-pro-nóbis, cultivado a modo de trepadeira, cobrindo
os galhos de um cajueiro como uma esteira de cores variadas e agradáveis de efeito visual. Não o vira antes tão florido. Florido só,
não, florido e perfumado. Aproximei-me
um pouco e mais surpresa: ouvi um
sibilar delicado fluído das asinhas de centenas de abelhas libando o néctar das
tenras e tão belas flores. Até mesmo o mamangava foi atraído por aquela doce oferta
de néctar. Qual orquestra seria capaz de executar tal sinfonia? Admirado,
ternamente admirado fiquei diante daquele quadro singelo, mas de expressiva
beleza em todos os sentidos. Não só pelas cores múltiplas das florezinhas,
pequenos cachos com pétalas brancas abertas como braços estendidos ao céu
rendendo graças e pistilos vermelhos, que sabemos ser uma cor simbólica.
Veio-me então uma indagação: por que antes não havia estas flores, com tanta
prodigalidade, forrando os galhos do cajueiro?
A resposta não demorou chegar-me: antes à medida que eu colhia as folhas
para preparar o suco, notava que a produção dos galhos sempre diminuía. Então,
cuidei extrair o mato em redor do pé e a irrigá-lo fartamente todos os dias ao
amanhecer. Pensava apenas nas folhas para suco. Mas naquela manhã ele me
retribuiu a bondade, o carinho, o amor, surpreendendo-me com um fantástico espetáculo: um tapete de flores
perfumadas e o balé das abelhas zumbindo melodia com suas asinhas. Veio-me à
mente um preceito: fui generoso com o pé
de ora-pro-nóbis com poucos litros de água por dia e, de volta ele me
presenteou com a exuberância e a riqueza
de sua florada. Exuberância da Natureza, que aos nossos olhos revela a presença
de Deus, pois é observando os efeitos que se chega ao conhecimento das causas.
Vê-se que, como disse Montaigne, “A
Natureza é a grande mestra do homem”. Ensina Kardec: “Natureza
Onipotente age segundo os lugares, tempos e circunstâncias: ela é uma em sua
harmonia geral, mas múltipla em suas produções; diverte-se com o sol, com uma
gota d´água; povoa de seres vivos um mundo imenso com a mesma facilidade com
que faz eclodir o ovo depositado pela borboleta. É o Ser Onisciente que
encontramos no infinito meio às galáxias, pedrarias variadas de um imenso
mosaico, as flores de um admirável canteiro. O Criador que reina no cenário de
mundos desconhecidos, no Universo inexpugnável, mas que também se apresenta nas
mínimas coisas, na singeleza até mesmo de uma flor, posto ser ela Sua criação”.
DIA
DA ÁRVORE
Um poderoso
lembrete de que devemos desacelerar e nos sintonizar com a linguagem da
natureza (Rachel Sussman)
Lá se vão os anos quando, nas
escolas era comemorado, com civismo e muito amor, o Dia da Árvore. Poesias,
cantos de louvor, discursos e o plantio de mudas que, no correr do ano eram
acompanhadas em seu crescimento pelos alunos. Tanto era a estima e a relação de carinho que muitas árvores eram
batizadas com nome de pessoas. As árvores estão, atualmente, em pauta de movimentos
sociais, nas “sinceras” intenções de políticos, que delas falam
sempre em proveito próprio. Ainda merecem atenção e cuidados de órgãos
ambientais (na maioria Ongs por que quando são ligados a governos os interesses
são outros), que lutam para preservar o cerrado, as poucas matas que restam e,
consequentemente, os recursos hídricos. Mais que manifestação de carinho e
romântica, hoje, é a imperiosa atitude
de preservação da flora.
Tenho, de minha parte um ato diário,
como religioso fosse, de render-me em
amor e gratidão à árvore por sua essencialidade à vida na Terra e,
consequentemente, aos humanos. Cultivo minhas árvores – na frente de minha
residência e no quintal (as frutíferas) e, com muitas delas, converso um pouco
a cada manhã quando lhes levo o refrigério de um pouco d´água – em especial a
aroeira salsa com seus longos e caídos galhos como uma cortina, um dossel
esmeraldino. A minha conversa com elas foi inspirada no fantástico livro “A vida secreta das ÁRVORES” de Peter
Wohlleben que já chegou a milhão de exemplares vendidos. Tenho dois
depoimentos, entre tantos, sobre o livro:
“Nesta empolgante investigação,
Wohlleben transforma definitivamente nossa visão sobre as árvores” –
Library Journal. “Um poderoso lembrete de que devemos desacelerar e nos sintonizar com a
linguagem da natureza” – Rachel Sussman;
Dos tantos ensinamentos e lições que
encontrei no livro, um me impressionou sobremaneira: as árvores são solidárias,
muito mais que grande parte dos homens – elas ajudam as que correm risco de
extinção sem nada cobrar ou pedir de volta, pois o fazem pela natureza de
preservação da espécie.
O
TROVÃO
Aquele
rimbombar ficou para mim como uma canção sertaneja, o céu descendo aos gerais
como um mensageiro acordando-nos para a grandeza de Deus (JNM).
São tantos os sinais da natureza
indicando a presença do Criador, que nos levam a experimentar diferentes
sensações. O cintilar de uma estrela no leito da abóboda celeste; a
grandiosidade do Sol, fonte de vida; o mar e os
rios, indicadores de origem da vida na Terra; as florestas com toda sua
pujança viridente rebrotando vida; o cerrado com suas árvores retorcidas
cobertas de mimosas e perfumadas flores, adornado por veredas paradisíacas. É
tanto, e meio a este miniuniverso o homem, a grande criação de Deus, porque
além de orgânico foi dotado de inteligência e, com isso, de sensibilidade; que
é capaz de se enternecer ouvindo acordes de uma música, de sentir fremir a alma
na leitura de poemas, que pode desfrutar de uma dádiva divina: o amor!
Pois é, nesta viagem pelo mundo
encantado que de Deus recebemos, não sei por que me encanta e sensibiliza um
fenômeno da natureza, que a muitos assusta: o trovão. Tenho-no não como
fenômeno físico, uma onda de choque sônica, na propagação de uma onda de choque
através do ar em consequência da violenta expansão térmica do plasma gerado no
canal da propagação do raio. Ele é causa de antiga especulação de Aristóteles, no séc. III a.C. Para ele (e
foi a primeira manifestação a respeito ensejada) o trovão resultava de colisão
entre nuvens, é que muito gente ainda
atribui sem se ater no avanço de pesquisas no século XX a respeito.
Afinal, o que me toca nas reverberações
de um trovão, que dobra, redobra e redobra fluindo no éter? Seria de assustar,
o que é comum à maioria das pessoas quando estronda muito próximo, concomitante
a um raio cujo estalido parece atravessar o corpo das pessoas? Mais apreciado é
o ribombar um pouco distante, acompanhando a reverberação que imagino avançando
pelos gerais, esbarrando na folhagem das sucupiras, caraibinhas e flabelos de altaneiros
buritis para depois amainar como se não existisse. É o que gosto e que me leva
com ele em viagens de devaneios. Então, volto no tempo quando lá no meu sertão
urucuiano, à porta de um rancho de palha, com os olhos na serra da Conceição,
via o aproximar de grossas e sisudas nuvens. De repente o ribombar do trovão
despencando da serra, despertando-me da meditação, indo serenar nos capões de
angicos à beira do rio Conceição (diz no mapa que é ribeirão, o que não aceito
por sua formosura e volume de água). Aquele rimbombar ficou para mim como uma
canção sertaneja, o céu descendo aos gerais como um mensageiro acordando-nos
para a grandeza de Deus.
Outras lembranças do ribombar de um
trovão me chegam revolvendo saudades. Além da paisagem da minha querida
Conceição, meu pensamento voa a São Romão. Vejo-me nas viagens de fim de ano,
enfrentando o aguaceiro, estradas enlameadas e a Campina transformada em um
rio, para encontros fraternos com os
amigos daquela acolhedora cidade – no fundo, sempre, o ribombar distante do
trovão, canção da planície. Vejo-me na Campina agarrado ao volante do caminhão
Ford, que foi parte de minha vida no Urucuia e em passeios no Riacho, com os
amigos em saudosos piniques. Outra lembrança, não menos cara, foi a do dia 8 de
dezembro de 1961 quando levei Vilma ao altar na igreja matriz de São José.
Chovia, tinha raios, tinha trovões, mas o melhor mesmo era o coroamento de um
sonho de amor. E lá se vão sessenta anos.
Estronda um trovão, meu peito se
abre, brotam e rebrotam, em cada ribombar
dele, as minhas doces lembranças e suspiro: quantas saudades!
ESPERANÇA
Quando eu disser
sim-sim-sim, vocês respondem não-não-não (Giovanni Sassá)
Pandemia à parte, o fervedouro que vive
o País, alimentado pelas vaidades e espúrios interesses de políticos e
autoridades públicas, que deveriam estar cuidando dele, levam-me a reflexões,
que se não fosse a Fé no Criador, na sua magnanimidade e bondade, já estaria
sem norte. Vendo homens, que deveriam trabalhar em harmonia pela grandeza do país e
bem estar da população, desvirtuando princípios éticos e de humanidade apenas
para satisfação de ranço político, eivados de vaidades, vislumbro o pior cenário para um país que tem
todos os requisitos para brilhar no concerto das nações de todo o universo terrestre.
Nesse jogo perigoso, irresponsável, lembro-me de uma canção do Giovanni Sassá
brincando com o público: “Quando eu
disser sim-sim-sim, vocês respondem não-não-não. E quando eu disser
não-não-não, vocês respondem sim-sim-sim”. É o jogo que fazem, da controvérsia,
jamais mantendo uma opinião, mas sempre tergiversando. Não há coerência,
honestidade e qualquer vislumbre de respeito em suas posições, senão o proveito
próprio. E, tantos deles, têm o despautério de proclamar que falam em defesa do
pobre, enquanto vivem nadando na riqueza.
Assim, como num raio de luz, agarro-me
em outra grande virtude, a Esperança. Primeiro que vençamos a pandemia e,
assim, possamos abraçar as pessoas
queridas, ter o sorriso dos amigos e gozar de tudo que nos oferece a natureza
do Criador. Esperança é um raio de luz que deve nos alimentar no sentido da
motivação de sempre acreditar e buscar o bem. No caso, lembro-me que pelo tanto
que perdemos, Deus nos restitui: é a esperança unida à fé, duo que se completa
com o amor, a trindade das virtudes que encontramos na benemerência de Deus.
Ensinou Adolfho, bispo de Argel,
Marmande: “Só é verdadeiramente grande
aquele que, considerando a vida como uma
viagem que deve conduzi-lo a um objetivo, faz pouco caso das asperezas do
caminho e não se deixa jamais desviar um instante do caminho reto; o olhar sem
cessar dirigido para o objetivo, pouco lhe importa que as sarças e os espinhos
da senda lhes ameacem provocar arranhões; eles roçam sem atingi-lo e, por isso, não prosseguem menos no seu curso”.
Então, nesta viagem encontro uma
lição, refrigério das minhas angústias: “Para lutar contra o instinto do roubo é
preciso que se encontre entre pessoas dadas à prática de roubar”. Não nos
livrando de sua presença, tiremos, pelo menos, um proveito espiritual. Essas pessoas do mal nos ajudam na formação
do caráter para empreender a grande viagem.
No meu
dia-a-dia sempre vejo resplandecer o Amor nas coisas mais simples, que o
Criador nos oferta, bastando abrir o coração para apreciá-las. Dias destes, no
frescor da alvorada, vislumbrei o umbuzeiro do meu quintal, antes com galhos
secos como braços estendidos ao céu
pedindo bênçãos, como um milagre, com a copa viridente ornada com mimosas flores brancas – vestindo-se como um anjo.
Como revigorou e reviveu da latência! Alegra-se a alma na simplicidade que, em
verdade é um verdadeiro tesouro, que no dia a dia nos oferece Deus.
A
VIDEIRA
Se
tendes o amo, tendes tudo que se pode desejar sobre a Terra. (São Francisco de
Assis)
Em certo dia, assim que a aurora surgiu
matutina, ainda no frescor da vigília da noite de silêncio das aves, visitei o Mundo Verde Um do meu quintal
(temos nele dois espaços – o Um com duas mangueiras, com vasos de flores e
plantas medicinais; o Dois sob frondoso umbuzeiro, onde Júlia montou sua
oficina de jardinagem, tenho um espaço para receber as aves do céu), que sempre
me proporciona momentos de prazer e alegria; momentos de paz e de encontro com o Criador. O sabiá, de canto apaixonado, anunciou o dia
e a luz do sol nascente se esvaiu em matizes diáfanas na viridente folhagem das
mangueiras e multicoloridas flores. Eis que alcancei uma pequena latada à
espera da cepa de uma videira presente de Tião, sogro do meu neto Ricardo.
Tenho um carinho especial por ela, e por vários motivos. Menino lembro-me que
minha mãe, solenemente, beijava o seu áspero tronco dizendo-o sagrado. É o
sentimento que me enternece ao contemplá-la. E foi assim que, naquela manhã
descobri, entre tenras folhas, vários cachinhos com frutos em formação. Uma
dádiva, um agradecimento pela poda que meu filho Ricardo um mês antes fizera
sob a orientação do Tião. Aquela imagem levou-me a refletir sobre o que
representa a videira. Na essência da contemplação, e recordando das passagens
da vida de Jesus, ela deve ser ligada direta e simbolicamente ao Criador. Para
Allan Kardec ela é o emblema do trabalho do Criador; todos os princípios
materiais que podem melhor representar – o “corpo
e o espírito nela encontramos reunidos: o corpo é a cepa; o espírito é o licor;
a alma ou espírito unido à matéria é o grão”.
Lembrei-me de várias passagens na Bíblia
mencionando a videira – é a árvore que dá as uvas e consequentemente o vinho,
que é considerado o sangue de Cristo. O significado da videira está diretamente
relacionado com essa dádiva de transformação capaz de trazer até gente algo tão bom e positivo. O primeiro
milagre de Jesus relaciona-se à uva: a transformação de água no vinho, porque o
vinho era um corolário nas festas de bodas – foi afeição por sua mãe Maria, uma
prova de amor. Depois, na ceia, ao se despedir dos apóstolos, Ele tomou o vinho
e anunciou: “Este é o meu sangue”.
Nada mais eu poderia dizer a respeito da videira lembrando que tanto na
civilização antiga, como na moderna a uva é símbolo de religiosidade e
renovação.
As plantas os animais são seres
orgânicos, vitais, portanto criação de Deus que nos ama, dando-nos a vida e a
terra para a purificação. Destaco a videira em razão de memória efetiva e
inspiração no Divino Mestre, no entanto a tudo devemos ser agradecidos e render
graças a Deus, que através de suas luzes, a exemplo de São Francisco de
Assis, nos propõe: “Se tendes o amor, tendes tudo que se pode desejar sobre a Terra,
possuireis a pérola por excelência, que nem os acontecimentos, nem as maldades
daqueles vos odeiam e vos perseguem poderão arrebatar”.
A
PAZ ÀS MARGENS DO SÃO FRANCISCO
Que
podemos fazer para a fim de promover a paz mundial? (Madre Tereza de Calcutá)
Tão serenas as águas do São Francisco em
banho colorido; de certo estão dormindo, descansando para continuar a viagem ao
seu destino quando raiar um novo dia. O seu destino é o nosso destino, sei
disso, pois ele traz as canções das serranias e, de queda em queda, ganha a
planície onde recolhe notícias dos gerais – as águas das veredas que brotam em
murmúrio, sombreadas pelos buritis, que cantam no vagar de suave brisa; desce
pelas valas abertas nos vãos, outras notícias elas trazem, depois de ter
saciado homens e bichos do chão ou do céu, revelando-se como nosso mensageiro.
Por que é o nosso destino? Se não vamos ao mar, nossos sinais deixados em sua
água vão. Em sonhos ancestrais ou telúricos temos tanto com o mar. Origem? Moto
perpétuo? É um momento de paz! Do encontro com o Criador inspirados, em oração,
pela emoção que nos inebria, na “Hora do
Ângelus” colocando-nos em sintonia com o divino que fluiu da alma no
repicar dolente dos sinos. O São Francisco transmuda-se a cada momento no suave
deslizar do Sol para o ocaso (não é o ocaso da vida, mas a viagem para buscar
notícias do outro lado do mundo). As tonalidades de variedades calidoscópicas
desafiam pinceis de artistas, lentes de poderosas máquinas ou modernos
celulares. Mal passando por uma visão o quadro transmuda-se – as nuvens que
caem mansamente no oriente, as manchas, que ainda restam escorrendo do ponto
zênite e o espelho do rio que zanza em cores não antes captadas.
Os são-franciscanos guardam modo de se
deleitar com o majestoso pôr do sol na cidade e, orgulhosamente, repetem: é o
mais belo pôr do sol do vale. Pois é, amigos. Encontro-me de olhar deitado nas águas seculares do nosso
rio, no dia em que, para nosso conhecimento, ele completa 520 anos. Vejo-o tão
belo. Mas o vejo, também, apensar sua magnificência e importância, tão
desprezado, tão judiado, tão esquecido pelas autoridades, que deveriam, em nome
do povo, dele cuidar. Qual o que, dói-me na invocação deles. Fico na saudade
mnemônica, do imaginar como era, lembrando não apenas Américo Vespúcio, que
ficou deslumbrado ao descobri-lo naquele distante ano dando-lhe o nome do santo
do dia, muitíssimo apropriado considerando a região onde ele iria cumprir a sua
missão milenar: São Francisco. Vejo um éden, imaginando o padre Azpilcueta,
descendo o Mangaí até descortinar o Opará escorrendo entre mata fechada. Era um
paraíso selvagem, formoso... E de um lado para o outro os índios em suas
bibocas... Que abençoados somos por ter está dádiva de paz ao entardecer. Sim,
falando-se em PAZ (o que tantos nos faz falta neste País conturbado pelos
políticos) vem-se à memória a frase da Madre Tereza de Calcutá respondendo a
uma pergunta ao receber o prêmio Nobel da Paz. Perguntaram-lhe: “Que podemos fazer a fim de promover a paz
mundial?” Ela respondeu: “Voltem para
seus lares e amem suas famílias”. Simples e profundo. Voltei feliz, como
sempre, para o meu lar.
EU,
A PALOMA E O INFINITO
A Natureza
onipotente age segundo os lugares, os tempos e as circunstâncias... (Emannuel)
Certa manhã, “logo depois que a
Aurora, de dedos cor de rosa, surgiu matutina” (Homero), como trivialmente, fui passear no meu quintal, e
então fui agraciado com um quadro divino: uma paloma empoleirada na fiação de
iluminação pública, solitária – como sempre se apresentam as pombas verdadeiras
– com seu canto suave e lamentoso; e de fundo, bem fundo, o infinito.
Emocionei-me por ser parte daquele momento, que me remetia à essência da
Natureza: Deus.
Emannuel ensina que “A Natureza onipotente age
segundo os lugares, os tempos e as circunstâncias; ela é una em sua harmonia
geral, mas múltipla em suas produções; diverte-se com o sol, com uma gota
d´água; povoa de seres vivos um mundo imenso com a mesma facilidade com que faz
eclodir o ovo depositado pela borboleta no outono.” E chama a uma viagem em
sua extensão: “Ilhas de luz etérea,
caminhos estelares, paragens suntuosas, onde Deus semeou os mundos com a mesma
profusão que semeou as plantas nas pradarias”. Fechando os olhos quis
viajar nesse mundo misterioso e, com os rastros das estrelas, pousar nas
pradarias floridas embebidas de perfume paradisíaco. Instante da mais pura
êxtase. Recordei-me, então, de uma citação de Rudolf Thiel em “E a luz se
fez”, sobre o pensamento do astrônomo
Giordano Bruno em momento de arroubo celeste em suas descobertas siderais: “O Ente Supremo não se lhe manifestava já na
Sagrada Escritura e sim em todas as coisas que havia criado”. De fato, tudo na natureza harmoniza-se por leis gerais
que não se afastam jamais da sublime sabedoria do Criador. Ali me encontrava
diante de um quadro simples, mas revelador da grandeza do Criador: eu, um
insignificante ser terreno e uma pequena ave de canto melancólico envolvidos
pela abóboda celeste de azul profundo, tudo nos revelando que somos parte da
Criação. Orar se fez preciso.
O filósofo Mário Ferreira dos Santos discorre sobre a
Natureza: “A ideia de uma existência que
se produz, ou pelo menos se determina a si mesma, sem sua totalidade, ou só em
parte, sem ter necessidade de uma causa externa. A Natureza é concebida como um princípio
vital, própria essência de uma coisa produzida”. Refleti, então, que no
gozo da Natureza, nos mínimos detalhes – uma árvore frondosa, um riacho sonoro,
uma pradaria coberta de flores e pessoas –
estamos próximos de Deus contemplando o que Ele produziu, pois tudo no
Universo imensurável Ele proveu.
Nós
homens pequeninos, um grãozinho de areia, tão inferiores a um micron, somos
parte da grande obra. Rendamos graças ao Deus misericordioso.
QUEM É QUE ME TOCOU?
Cuidai das coisas lá de cima, não nas coisas que há
sobre a terra (Colossenses).
Despretensiosamente, dias atrás,
dei-me com uma passagem bíblica que me emocionou muito e, de imediato, levou-me
a algumas digressões. A frase está em
citação de Lucas, 8: 45-46. Narra um fato singelo, se não tomado em sua
extensão. Uma pobre mulher que padecia de um mal incurável, fluxo de sangue,
que não encontrara cura com médicos, tendo esgotado todos seus recursos. Soube
ela da passagem de Jesus onde ela morava
e o viu, meio a enorme turba, passando pelo caminho. Com esforço aproximou-se
dele. E o que fez? Tocou-lhe, com um dedo, o manto e, imediatamente curou-se do
mal. Jesus percebeu e disse: “Alguém me
tocou: porque eu conheci que de mim saía uma virtude”. Ninguém pôde
respondê-lo e ele insistiu. Nisto a mulher se aproximou e postou de joelhos aos
seus pés e se desculpou. Jesus, complacente, a ela dirigiu: “Filha a tua fé te salvou: vai-te em paz”.
Esplendor de duas virtudes pregadas
por São Paulo: fé e caridade. Deu-me a consistência do entendimento da missão
de Jesus na terra: a Luz, a misericórdia de Deus revelando Seu amor aos homens.
Tão excepcional foi o fervor daquela mulher acreditando que com um simples
toque no manto de Jesus seria curada; e Jesus, ao sentir a virtude desprendida
dele: a caridade. O amor que resume inteiramente a doutrina de Cristo. Que melhor
poderíamos ter buscando Jesus?
Nada mais precisaria ser dito. Mas
refleti: não estamos vivendo um tempo em que se faz necessário ressaltar a
presença de Jesus iluminando nossa seara? Nisso, lembrei-me de uma pregação do
padre Leo (um santo homem) inspirado em Colossenses, concitando-nos: buscai as
coisas que são lá de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. “Cuidai das coisas lá de cima, não nas
coisas que há sobre a terra”.
Então encontramos força,
especialmente em espírito – pois é através dele que podemos chegar ao Pai, não
em matéria. “Encontrar uma meta e manter o passo firme
em direção às coisas que estão no Alto é próprio daqueles que sabem superar os
desafios e que não se deixam abater diante das dificuldades. Para aqueles que
não querem parar nem desanimar diante dos problemas, é preciso continuar!” – Pe. Leo.
O que vamos levar carimbado, em nossa vida na terra, para
depositar aos pés do Criador como legado de uma vida que se passou, da qual
nada fica para merecer refrigério na vida espiritual? Tenho certeza, como tantos brasileiros, sem querer
fazer qualquer juízo, mas na reflexão do que vejo e sinto, que em nosso sofrido País, muitos políticos e
magistrados estão agarrados aos bens temporais, carimbando o perverso
que, certamente, não serão propícios ao Criador. Serviria de consolo? Não,
seria de imensa tristeza.
POEMAS
NAMORO
A LUA
Lua,
por que me olhas tanto
Viajando
no céu do meu universo?
Feliz
me rendo ao teu encanto
Encontrando-me
em sonho imerso
Tu serena no passeio, etérea
Pareces,
a mim apaixonada
E
fico a cada mês à tua espera
Viajando
na trilha celeste prateada
Eu
penso que me olhas, então
Pois
não me escapas ao olhar
Sinto
até que sou teu namorado
Deveras,
tens meu coração
Contigo
por tempos posso viajar
Parte
de tua jornada embriagado
A
Lua vista do jardim de Gisele e Renato no encontro feliz do aniversário de casamento deles, dia 5.2.2022
O
QUE É A REALIDADE?
Aquelas não são
as estrelas refletidas no lago
São sombras de
estrelas que dormem ali há muitos séculos (Robert Hilles)
O
que vejo hoje no céu já não existe
O
brilho das estrelas é de tempo passado
A
iluminância do caminho de Santiago
Como
a luz do Sol, não é deste tempo
A
brisa que serena e suave nos beija, foi...
A
água do rio que passa, não volta jamais
Os
bons e maus momentos também passam
O
relógio do tempo aponta para o amanhã
As
fotos que guardo são lembranças
Lembranças
de tempos passados
Que
alimentam tão viva as saudades
No
olhar velado é de tempo passado
Então,
se tudo do cotidiano passa
Vivamos
com intensidade o momento
Tendo
no coração que na vida tudo passa
O
momento é a porta do amanhã
LOUVOR E LAMENTO
I - Ode à alegria do que veio;
II - Ode à tristeza do que não veio.
III – Ode à reflexão
“... se o homem não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus” João 3:3
Hosana! Ao criador do
Universo rendo graças!
O principio das coisas
está no segredo de Deus.
Hosana! Ao Senhor o dom
da vida, rendo graças
Eis porque sou partícula
ínfima do Seu mistério.
E me vem, então,
perguntar por que eu nasci?
Benfazejo por uma
mulher me fiz homem.
Ela me guardou em seu
ventre velado de amor.
Se pela vida rendo
graças ao Senhor Criador,
Foi por meio dela que me
tornei parte do mistério
Foi ela o templo
abençoado da minha vida.
II
Eis que outro plano na
vida me destampa...
Então choro pelas
sementes não vingadas
Choro pela expectativa
de uma alma sem um corpo
E mais choro ao
descerrar a cortina da negação
Ato de desobediência ao
plano do Criador.
No plano dos homens,
contrariando a Natureza
Ao que seria não foi
dado deliberar seu destino
O que foi plantado, não
viveu o primeiro pulsar
Por ele decidiram que
não teria o direito de vir
Quem, senão Deus, pode
decidir o direito à vida?
III
Ao nascer, o grito que
escapa da criança
anuncia que ela se conta
entre os vivos e servidores de Deus.
A união da alma com o
corpo começa na concepção,
mas não se completa
senão no momento do nascimento.
IMPERMANÊNCIA
Da sabedoria oriental veio-me o conhecer:
Que em cada momento
é preciso viver
A busca da
perfeição para o qual tende o devenir
A essência da vida intensamente
usufruir.
Sou ínfima parte do mistério da dádiva do
Criador
Pequenino, mas tenho Sua graça e o
seu Amor
Na trajetória pelo espaço sideral de uma ida
Que em voo perpétuo se desprende
E em novos
campos ganhar uma nova vida
Inaugural que do passado se despede.
Tenho então, numa passagem, um momento
Em que me ocorre um fulgaz
pensamento
Encontrando-me à beira do meu rio, inebriado
Mergulho
os olhos nas águas em movimento
Vejo que elas passam e que não as verei
jamais.
E ainda, que nem o meu momento terei mais
Não voltarão aquele rio e o meu momento
Acabou. Tenho a compreensão do transitório.
A
impermanência é a chave do meu pensamento
Naquele momento não volto, nem o rio.
MALU
Sorrisos, beijinhos e palminhas
Nossa aurora cor de rosa despontou
Tantas vidas cobrindo de alegria
Em um passeio angelical
Uma estrela em nosso universo
Figurinha prendendo olhares
Raio de luz, suave canção
Encantando o nosso cantinho
Sorrisos, beijinhos e palminhas
E o balbuciar como música
Olhinhos puros e brilhantes
Descortino da vida que chegou
É ela, nosso mimo!
É MALU!
Passagem da bisneta Malu (Larissa e Rodrigo) em nossas vidas,
apenas dois dias, mas valeu pelo imenso contentamento;
ANALUA
LUA
ANA
ANA
LUA
Brincava eu com palavras do meu dia a dia
Em uma noite de céu bordado de
estrelas
Então vi em ponto brilhante
no zênite
Cintilar de uma luz vinda do orto
dos astros
Ela cresceu na passagem
entre estrelas
Trazendo lembranças do universo
de Deus
E chegou ao nosso mundo encantado
Transluzindo como as cores do
arco-íris
Cintilante como diamante
caleidoscópio
Ora viva! Entoaram vozes em
festa.
A suave luz, enfim, se fez
sementinha
Iluminou e agraciou o ventre de
uma mulher
Uma esperada vida se anunciava,
então.
Exulta o jovem pai que já
namorava a lua
Dos astros a mais serena e
cantada
O jovem casal então, docemente,
proclamou:
É preciso dar a essa luz uma
graça
Mais graciosa ela ficará em no
novo mundo
Na sua jornada terrena terá uma
amiga: Ana
Ela chegou ao convívio do nosso
mundo
Então todos proclamaram: Ave!
Temos Analua!
À bisneta Analua (Giovanna-Gustavo) dos mistérios da vida,
inaugurada dia 17 de dezembro.
ONDE ESTOU
Céu, Terra, Água:
Elo secular da vida
No espírito eterno de Deus
É
o nosso universo. Manas:
O vir e o ir nos eflúvios
Que nos sintonizam
Muito além do pensamento.
Então, o que vejo e sinto:
Campos rasgam horizontes,
Neles flui meu espírito
Duende passeando no tempo.
A natureza verde balança,
Flores miúdas esvoaçam-se,
O ar inebriado fica de perfume.
Na orla de trilha rumo de veredas
Vicejam canteiros de ciganinhas;
Peço licença às abelhas que libam
Para ter na mão a rubra flor;
Em cantigas dos gerais
Balançam as palmas buritizais,
Pouso dos alados modo vestal.
Deles o alarido leva a brisa,
Desperta os gerais no
encantamento.
A deidade assume minha alma,
Nas asas soltas o espírito se
liberta
Mergulha feliz no Empíreo.
JNM 28.12.2022
AS ESFERAS E O HOMEM
Na visão do etéreo a terra é uma esfera azul.
Olhando de baixo, a lua é uma esfera prateada
E o sol uma esfera brilhante
e dourada
No olhar da terra é outro o panorama
Ela não é exatamente bela e redonda
Geoide é seu corpo a
poucos dado ver
O que se sabe dos cumes do Everest
Da misteriosa Fossa das Marianas?
Cordilheiras enrugam sua superfície
Valas profundas rasgam o seu solo
Colossais oceanos gravitam profundezas
Calotas de gelo enterram seus polos
Dourada areia cobrem leitos de campos áridos
A exuberância é exibida no verde das matas,
Parte por parte nosso
habitat é formoso,
Mas ao apreciar o todo, sem olhar espacial
É possível de se ver um
triste cenário.
O modo de ver e sentir o que nos cerca
Também leva a sentimentos
diversos.
É o que acontece com muitos homens,
Que à distância têm impressionante imagem,
Chamam a atenção e todos os admiram
De perto, contudo...
Eles têm boas palavras e riqueza de ideias,
Que em verdade nada têm de real.
Ensina o Tantra: é
perigoso ficar apegado a elas:
As palavras têm tendência estreita e limitada
Não se iludam com o brilho prateado
Nem se encham de êxtase com o dourado,
Menos ainda com o
azul fictício,
Ao contemplar muitos homens.
Que como as palavras, são apenas cores.
Que sem a luz perdem a expressão.
NO TÚNEL DE DEUS
Não, não era uma estrada usual;
Não, não era tão somente um
caminho;
O que suscitava a minha emoção
Com o olhar contemplando um túnel,
Formosa e viridente aleia do homem não plantada.
Fluindo em espírito por árvores
tantas em fila
Senti o abraço amorável da natureza
Colhido na emoção sentindo a
presença de Deus
Graça espargindo ondas verdejantes
na pradaria
Margens enfeitadas de colchões de
gramas
No brilho esplêndido do sol
vespertino.
Não, não era uma simples estrada.
Era de fato um túnel, o abraço da
natureza,
Era, dela, um altar erigido à paz
Trazendo aos nossos olhos e ao coração
A magnificente imagem Deus
Que se revela em todas as coisas
que Ele criou.
Cenário: trecho da rodovia
São Francisco – MOC entre o aeroporto e Croá
ENCONTRO DE ALMAS FELIZES
Poesia. Música. Compasso.
De suave cadência ao madrigal
A mente se abre à palavra
E o audível revela o inaudível
Dissolvendo-se a poeira etérea
Das coisas rudes e palpáveis
Revelando-se o enigma de Orfeu
No seu canto de amor à amada
Se Plutão e Plutarco em suas eras
Se
renderam aos Hinos Órficos
O que se diria de nós, hoje
Quando sob céu escampado
Elevamos felizes nossas almas
Na transmigração nos tempos
Que na peregrinação são eternos.
E felizes, tanto, entrelaçamos
sonhos
Abraçamo-nos no altar da irmandade
A poesia, a música levam à
libertação
De tanta e sofrida aflição
anunciada
Esquecidos, leves no ar, soltos
Abraçados haurindo os dons do
Criador
A poesia. A música, o Compasso
Harmonia do Universo revelada
Como é bom cantar o Amor
Que refulge reluzente num abraço.
Um tributo à amizade: sarau
reunindo Dudu (violão e voz), Creuza, Beatriz, dr. Francisco, Jandirinha, Edilton
e João Naves (vozes); Emannuel (caron
acústico) Vilma, André, Julinha (a tenente), Rachel, Allan (mestre do churrasco)
Maria (a graça pueril; Nádia corolário da confraternização.
SOLITÁRIO E O RIO
Solitário pensa o rio
Esquecido na placidez
Das águas que buscam o mar
Pensa ser ancorado ali
Com o ideal de viajar além
Inda que raízes do sentimento
O prendem mais nas barrancas
Solitário embevecido no
belo
Na serenidade que inspira o rio
Vai, de pensar, mas fica
ali
O JATO
Jato numa manhã de chuva
De sua passagem ficou o sonido
Reverberando sobre colchão
volátil
Rápido, tão veloz à linha do
horizonte
No ponto, é certo, do seu
destino;
Passou e deixou sua canção no
etéreo
E naquele momento de fusão
Em raiz na terra plantado, sem
ir,
Revirei sentimentos esquecidos
Com o corpo não vivo a viagem
Mas no sonido de sua passagem
revivo
Vem-me a sensação de sentida saudade
Mas de quê?
SONHO
Um
olhar
Maneio
de corpo
Sorriso
de Madona
Mão
acenando
Nenhuma
palavra
Seria
um chamado
Meiguice
Foi
um sonho
PAINEL DO MÊS DE
AGOSTO
Qual manto de sisudez
O cinza tinge o sertão.
Árvores e árvores ressequidas,
Galhos tortos desfolhados
À míngua de chuva/vida.
Há de se ter o prenúncio da
Primavera.
Não por encanto, por esperado,
O amarelo como gotas de ouro
Surge rendando o teto do sertão;
De espaço em espaço pingado
Reluz o sol em brilhantes ipês
O festival do amarelo.
Outras floradas ganham
exuberância:
A caraibinha, da branca à roxa;
A sucupira preta vestida de roxo.
Há de se ter e o perfume exalar
Da branca flor da sambaíba,
De cálice aberto aos beijos das
abelhas.
De tronco mais fornido, como rei,
Mais espaçado, o pequi abrindo-se
Em flores brancas e tão suaves,
Promessa de riqueza no sertão.
Na beira do rio o pajeú
Vestindo-se de flores verdes.
AGOSTO! Ainda sem chuva
Anuncia-se a Primavera
Sertão: cerrado, mata seca,
barrancas
Tudo seria infinitamente durável
Não fosse a ganância de homens
Que por dinheiro destroem um
paraíso
A natureza resiste! Agosto se
repete!
Por obra de Deus sempre se
repetirá!