VEJA NO QUE DEU

A secretaria municipal de Obras deliberou dar curso ao projeto de melhoria da orla do rio São Francisco,  projeto iniciado ainda no governo do padre José Antônio quando, com verba do Ministério do Turismo, foi pavimentado o dique entre o bairro do Quebra e entroncamento com rua Hermano Diamantino (saída para São Romão, bairro da Luzia).  Além da pavimentação asfáltica foram feitas algumas importantes obras: praça dos Pescadores, com a construção de dois prédios/bares para incentivo ao turismo, corrimão e passeio da praça dos Pescadores até a ETA da Copasa. Considerando essas obras, que tiveram a licença do Ibama, outras intervenções ocorreram na orla, a começar pela construção do dique pelo governo federal. São elas: bar das Pedras, bares/barracas e bar restaurante Peixe-Vivo, no cais; bar Dois Irmãos: construção de uma casa (moradia) e área com culturas anual e perene; Clube Campestre Carquejo e bar Três Becos com área de mais de um hectare trabalhada.
Na visão geral tem-se que toda a orla do rio São Francisco, na área urbana, do bairro Quebra ao bairro da Luzia foi antropizada. O maior prejuízo à orla ocorreu com a construção do dique que o propósito de proteger a cidade de enchentes do rio São Francisco, motivado pela enchente e 1979. Por ironia, o rio, desde aquele ano até tempos atuais, nunca mais vazou. Pudesse ele falar certamente manifestaria o seu desagrado por ter sido isolado da cidade. Isso também sentem os são-franciscanos que viveram o tempo em que   sua visão alcançava as águas do rio, de longe, sem precisar chegar ao barranco. Era cidade e rio sem barreiras. O dique foi construído à revelia da população, e ninguém se importou.
Antropizada a orla, foram surgindo as construções – algumas em decorrência de projetos bancados pelo governo federal e outras por iniciativa particular. E tudo foi dado como bem.
Em Pirapora, Januária, Manga e São Romão, observa-se que a orla do rio São Francisco, em cada uma delas, é urbanizada. Pirapora, a partir do Hotel Canoeiros, até antigos prédios da Navegação, é totalmente urbanizada – bares, campos de futebol, parques, tudo em contato direto com o rio. Na cidade de Manga uma bela praça, como a nossa dos Pescadores, foi levantada a prumo no barranco do rio.
Pois bem, na orla do São Francisco, aqui na cidade, restou uma área medindo 600 metros de comprimento por 30 metros de largura coberta por variada vegetação – essências arbóreas nativas e exóticas – como as palmeiras e palmáceas; e muito capim formando moitas. Com o correr dos anos, muitas árvores, em decorrência da idade, foram morrendo formando-se, em decorrência um emaranhado de mato, uma cortina espessa que impede a visão do rio e a penetração da claridade da iluminação pública. Criou-se um ambiente que tem servido para despejo de lixo – de toda espécie: cachorro e gato mortos; entulhos de construção, móveis descartáveis, garrafas e plásticos, muito plástico. Serviu, também, para acobertar grupos que se escondem na área para o uso de drogas (fato denunciado por pescadores, quando do regresso das pescarias, à noite, temerosos) e encontros libidinosos, assustando as pessoas.
Foi, assim, o propósito da secretaria de cuidar da área: limpar (não desmatar como dizem), criar trilhas e um local de lazer. Um projeto sem corte de árvores nativas, apenas as exóticas e mato.
Iniciado, o serviço foi denunciado à Polícia Ambiental, que o embargou, desconsiderando os fatos acima elencados.
Obra embargada, população não atendida e, um castigo: uma mão criminosa ateou fogo na pequena mata. Ficou pior. Nem uma coisa, nem outra, restando o desastre, o ambiente feio. Quem lucrou?