Na manhã da sexta-feira 11 Terezinha Ribas recebeu familiares e amigos em sua residência, com o café da manhã, para celebrar os seus 90 anos de existência. Um ambiente muito agradável, festivo, em que todos alegremente se confraternizaram com a anfitriã. Além de conversas amigas e descontraídas, teve apresentação especial da Seresta de São Francisco, da qual Terezinha faz parte com a sua belíssima voz.
O Portal registra tão saudável efeméride reproduzindo uma entrevista de Terezinha concedida ao jornal O Barranqueiro, por volta de 2004.
No imenso casarão, erguido na década de 20, na praça Centenário, acompanhando o crescer de dois netos, encontramos a professora Terezinha Ribas Novi, da cepa de uma das mais tradicionais famílias de São Francisco, Ribas.
Terezinha nasceu no dia 11 de maio de 1928, na mesma casa onde vive até hoje. Ela é filha de Agabo Ribas e Josefa de Oliveira Ribas, também nascidos em São Francisco. Agabo era comerciante e, por não ter se envolvido com política (o que não gostava, como observa Terezinha) pôde atravessar os anos turbulentos do famigerado Barulho que levou seu irmão Sancho Ribas asilar-se em Pirapora para nunca mais voltar a São Francisco. O comércio era estabelecido na frente da casa, onde hoje funcionam a Papelaria São Francisco e a Polli Rob; do lado, na mesma casa, funcionava o escritório dele, que representava o Banco do Comércio e Indústria no município que não tinha, ainda, uma agência bancária. Um detalhe sobre a bela casa: a frente dela foi construída pelo mestre Garibaldi, contratado pelo prefeito Oscar Caetano Gomes para construir o prédio do primeiro grupo escolar de São Francisco. Na antiga praça, XV de Novembro, muito bonita, com seu vistoso jardim, destacavam as casas de Francisco Mendonça (Floriano), a do Agabo, Raul Coutinho, Odilon, Oscar Caetano Gomes e a Aliança (antes uma pensão).
Agabo e dona Josefa tiveram outros filhos, além de Terezinha: José, Maria, Valdemar, Edmar, Antônio, Manoel, Mamede e Henrique.
Terezinha fez o curso primário no Grupo Escolar Coelho Neto, tendo como professoras Hilda Pinto e Alzira Coutinho. Fez, depois, o ginasial e normal no Colégio Imaculada da Conceição, em Montes Claros, formando-se em 1946, voltando para São Francisco, onde começou sua carreira de professora no Coelho Neto, como substituta. Anos depois fez um curso de especialização em Educação Física e artes, no Instituto de Educação, Belo Horizonte, com a duração de um ano e com isso, em 1951 foi nomeada professora no mesmo Coelho Neto. Com a fundação do ginásio (hoje EEDAM, pelo professor Arnaldo) foi professora, desde o curso de admissão. Permaneceu no Coelho Neto e no ginásio, como professora de Educação Física e de Educação Artística (desenho), até se aposentar em 1984. Foi, por um período de dois anos, inspetora escolar e trabalhou, também por um período, como professora do Colégio Normal anexo à EEDAM.
Como professora de Educação Física e de Educação Artística, Terezinha fez história, ganhou centenas de admiradores e era adorada pelos alunos. Ainda hoje falam sobre suas aulas, como era criativa e como conseguia motivar os alunos, levando-se a fazer demonstrações em praça pública (no coreto, como disse a professora Natália em seu depoimento), nos eventos cívicos, desfiles e nos salões. Terezinha lembra que o diretor do ginásio a incentiva muito no trabalho, pois ele gostava muito do que se fazia – dr. Oscar. Diz ela que a metodologia que adotava, além de ser interessante e bonita, motivava e estimulava muito aos alunos, pois seu trabalho era levado ao público sempre que tinha oportunidade.
Uma lembrança que Terezinha guarda com muito carinho foi a presença de Ana Ribeiro (Aninha) em sua vida. Ela tinha dois anos quando perdeu a mãe. Antes, quando ela adoecera, mudou uns tempos para Pirapora em companhia do pai e de Henrique, ainda pequenos. Na casa ficou sua madrinha, tomando conta, depois chegou Aninha, ainda moça. Dona Josefa faleceu com 38 anos e Terezinha tinha apenas 2 anos, então, por sua sorte, Aninha se afeiçoou a ela e se transformou em sua segunda mãe, acompanhando-a até seu falecimento de 16.8.94. Terezinha nada fazia sem consultá-la.
Terezinha, além de se destacar como professora de Educação Física, sempre inovando, e como professora de Educação Artística, uma grande desenhista, teve, também, uma passagem pela música. Estudou bandolim com a mestra Aurora Calado, esposa de Faustino, um excelente músico, Estudou, depois, na escola de música de dona Vírginia, porém não chegou fazer parte da Orquestra Santa Cecília.
Como criança Terezinha participou de muitas festas na Associação dos Amigos de São Francisco – os bailados, muito comuns, danças e cantos. Ainda hoje ela sofeja a primeira música que cantou, ensaiada por dona Virgínia e lembra, também, que era a “ídola” da mestra, sobretudo para os cantos solo. Lembra dos bailes. Eram muito respeitosos. Na Associação tinha um bar onde os rapazes se reuniam, muitas vezes para tomar café. Aristomil, Leonides, Brasileiro e Henrique criaram o Café 4 Efes: frio, fraco, com formiga no fundo.
Era uma época muito bonita e animada, comserestas e a banda de música fazendo retretas no coreto da praça.
O tempo passou. Em 1961, 23 de dezembro, Terezinha casou-se com um italiano, Ângelo Novi, nascendo desse casamento os filhos Giovanni Ágabo, casado com Cláudia, com quem teve os filhos Ana Tereza, Marcos Antônio, Giovanni Filho e Mateus; Leonardo, casado com Danielle, com teve uma filha, Maria Elenae Alexandre, casado com Maria de Fátima, com quem teve os filhos Priscila e Alexandre e com Albanísia com quem teve os filhos Ângelo, Felipe e Ludimila.
Agabinho é professor – foi diretor da unidade da Fundação Educacional Caio Martins de São Francisco; Alexandre está morando com o pai, na fazenda Brejo da Saudade e Leonardo mora na Chapada Gaúcha. Ele herdou os traços artísticos da mãe e tem pintado belíssimas telas que ornamenta as paredes do casarão. Um dos quadros, focalizada na fotografia da edição passada, ele prestou uma homenagem ao avô, Agabo Ribas exercendo o ofício de sapateiro. Terezinha conta que, antigamente, os pais colocavam os filhos, muito cedo, para aprender uma profissão. Assim, o Agabo antes de se fazer comerciante e representante de banco, era sapateiro – o quadro é excepcional, quase um retrato; Sancho, irmão de Agabo foi funileiro, antes de se transformar em comerciante e um dos principais políticos da velha São Francisco.
Um fato pitoresco, registrando, ao mesmo tempo, duas histórias. Preocupada com o parto de Alexandre, diante da falta de recursos de São Francisco, Terezinha planejou tê-lo em Belo Horizonte e já preparava as malas quando soube de uma notícia, no mínimo inusitada:numa viagem de trem, para Belo Horizonte, onde faria o parto do terceiro filho (Leonardo) porque enfrentara problemas sérios nos partos anteriores (Ricardo e Eduardo), sua amiga Vilma (João Naves) acabaram tendo o filho no trem, chegando em Curvelo. O parteiro? João Naves. Foi o bastante para ela desistir do projeto. Teve o Alexandre em São Francisco e tudo correu bem.
Por fim, um registro que se faz necessário: Terezinha foi uma das fundadoras da Seresta São Francisco. Antes da formação desse famoso grupo, ela cantava num coral do grupo Coelho Neto, organizado para se apresentar nas casas, angariando recursos para a escola. Na seresta as atuações de Terezinha são destacadas, sobretudo nos solos da maravilhosa Ave Maria com seu canto inconfundível, no solo. Impressiona a doçura de sua voz, a afinação e como permeava pelos agudos com a facilidade de um oboé.
Uma missão que Terezinha vem cumprindo há muito tempo, com a maior dedicação e alegria é a de servir como Ministra da Eucaristia da Matriz de São José.
Esse foi um pequeno apanhado da história da grande mestra e artista.
JNM
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