sábado, 5 de maio de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE



XXXVII – Parte
OS EDUCADORES – FINAL
PROFESSORA MARIA CÉLIA SANTOS, dos educadores da Escola Caio Martins, foi a que mais marcou a minha vida e, certamente, de muitos de meus colegas. Com ela fecho o registro em que evoco o quadro imorredouro de tantas pessoas que se destacaram no campo educacional das Escola Caio Martins de Esmeraldas, que com sua ação, exemplo e vida, moldaram o caráter de tantos jovens, direcionando-os  como cidadãos cônscios de seus deveres para o enfrentamento da vida a serviço da sociedade e da pátria.
Dona Maria era a diretora do curso normal. Atuava também como professora de Pedagogia e Religião. A sua voz mansa, sua enorme capacidade e o modo de se dirigir aos alunos, tornavam suas aulas agradáveis, que como um toque de magia penetravam em nossas mentes e ali ficavam plantadas.
Além de diretora e professora ela se fazia mais presente ainda em nossa vida nos assistindo primeiro na República que ficava ao lado de sua casa e, depois, no artesanato, com um grupo bem maior de alunos. O Artesanato (ganhou esse nome porque deveria ser um espaço para o desenvolvimento de atividades artesanais, mas que acabou se transformando em moradia de alunos) foi construído no topo de um dos pontos elevados da topografia da Escola, à entrada de um belo bosque, que segue no plano em uma direção e, noutra, cai em declive rumo ao córrego que escorre de uma lagoa, na parte central da escola, em busca do rio Paraopeba. O prédio tem uma arquitetura interessante, de acordo com o terreno. No piso, apenas em uma parte, encravada no barranco, de um extremo a outro, pelo fundo, foram construídos quartos, banheiro e cozinha, com uma larga e comprida varanda, onde se instalavam dona Maria e sua família. Pelo interior, uma larga escada de acesso  ao pavimento superior composto por uma imensa sala (onde eram realizadas as reuniões do grêmio e exibidas peças do teatro da Cia Melo) e diversos quartos, alojamento dos alunos. Também nesse pavimento circulava uma bela varanda que dá vistas para parte baixa da Escola. O Artesanato abrigava a maior parte dos alunos do 1º ao 4º do curso normal. Portanto, uma diversidade muito grande de temperamentos. Eram alunos oriundos de diversas regiões do Estado, com costumes e modos de vida diferentes. Harmonizar a convivência desse pessoal, no rebentar de sua juventude, não seria tarefa fácil. Dona Maria o conseguia com serenidade, com imensa sabedoria. Tinha, dos alunos, o maior respeito. Nunca algum deles sequer levantou a voz contra ela ou a desrespeitou. Os atritos que surgiam, de quando em quando, ela contornava com preleções que amainavam os corações, emocionavam e comoviam – bastava o sibilo suave de sua voz para criar o ambiente de paz, de harmonia.
Dona Maria, com o tempo, fez com que a buscássemos como uma mãe. Era isso mesmo o que ela representava: nossa mãe.
Muito aprendemos com ela. Para mim, como educador, seus ensinamentos, seus exemplos, a prática do amor e o modo de se relacionar com alunos, servidores e comunidade, seus ensinamentos baseados na religião, ou seja, no amor pregado por Cristo, nortearam a minha vida. Hoje, orgulho-me da relação que tenho com meus ex-alunos, centenas deles, que quando nos encontramos ou através de outras mensagens, reportam-se aos seus tempos de alunos como uma fase feliz e de grande importância em sua formação. Dona Maria soube – e como soube plantar.
Ela esteve ao lado da primeira turma do curso normal, do primeiro ano até nos entregar ao povo urucuiano, acompanhando-nos na instalação do Núcleo do Urucuia – Escola Caio Martins plantada na antiga fazenda Conceição da famigerada Joaquina. Foi lá, para sua última aula de nossa jornada de vida.
Do Urucuia, sempre que ia a Belo Horizonte, ficava em sua casa na rua Coronel Fulgêncio, 45 (nome do pai dela), bairro São Lucas, no convívio e amizade de seus filhos Nivaldo, Zezé, Roberto, Elcinho, Maria Helena, Isabel e Vanda e de seu esposo sargento Barroso, um grande amigo. Mais tarde, estando em São Francisco, também nas idas a Belo Horizonte, eu a visitava em sua nova morada, em Betim. Além das visitas (bem poucas, infelizmente) eu escrevia algumas cartas para ela dando notícias do meu trabalho que tinha como extensão do trabalho dela. De volta, recebia cartas maravilhosas, verdadeiros tesouros – delas, uma reproduzirei no Portal, para atestar como amorosa era a Mãe Maria Célia. É preciso que se faça um registro, ainda que tão modesto e muito aquém da formidável pessoa que ela foi para que guardemos sempre viva a sua memória tão preciosa.
João Naves de Melo

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