sábado, 25 de maio de 2024

O RIO SÃO FRANCISCO HOJE

 


Em 2002 encontrei-me com um vazanteiro no antigo porto de travessia do rio São Francisco à espera do momento de embarcar na lancha. Estendendo o olhar ao rio minguado de água, e com muitos bancos de areia quis saber dele, com seus anos vividos nas vazantes, o que achava daquela situação. Com o olhar distante, talvez buscando boas lembranças do rio, ele falou: “Nos tempos de mais água, ao chegar a seca, nos barrancos dos córgo a gente via a salimora escorrendo. Hoje, quando vem a seca, o barranco fica mais seco e o rio  tomem , tudo vira areia só”.

            Registrei sua observação no livro do Cerrado às barrancas do São Francisco, que editei no mesmo ano com o vaticínio de um barranqueiro: “– Meu filho este imenso trilho de areia que suas vistas hoje comtemplam, outrora foi um majestoso rio o mais importante do Brasil, o então falado rio da unidade nacional”. Neste livro registrei ocorrências de devastação do cerrado, a negligência de governantes e da sociedade em relação à bacia do rio São Francisco.

Nesta semana, eu e o Guilherme Barbosa examinando fomos verificar a situação da travessia do rio e o que vimos é estarrecedor. Diante de nossos olhos estendiam-se enormes bancos de areia e até o orto de uma ilha por onde em poucos anos atrás navegavam as lanchas na travessia. Registramos que o tempo gasto na travessia pode chegar até 4 horas. Com a espera e embarque. Acompanhamos o trajeto de uma das lanchas (são duas em serviço) num percurso de quase mil metros descendo até às proximidades do Clube Campestre Carquejo, voltando em sentido contrário ao porto do outro lado. Atualmente é o que ainda é possível, mas pode transformar-se muito mais complicado, e quiçá provocar uma paralização da travessia, pois não há, daquele ponto até o bairro do Quebra, nenhum ponto adequado para construção de um porto. Anos atrás o porto de travessia na margem direita era no Quebra. Com o tempo e a construção da rodovia da Ruralminas, passou-se para um ponto mais acima, local que ficou conhecido como Porto da Lavina. Era um sítio agradável, ponto de encontro de amigos aguardando a hora dos embarques para “botelhar” (bater papo), como dizia Zé David Botelho, que perdia horas alisando bancos das barraquinhas. Na atual situação sobra tempo para conversar, mas como a vida  corrida a demorar na travessia tem provocado muita confusão exigindo-se até mesmo a  presença policial.

O assunto é a situação do rio. Propomos fazer uma sucinta análise dela que, certamente, não  interessará a governantes (maiores responsáveis por tal situação pela negligência em relação ao rio) e setores da sociedade que vivem noutro mundo. O registro mister se faz pois o futuro....

 

 

 

O RIO SÃO FRANCISCO HOJE – II

           

No mês de maio de 2017 enfrentamos uma situação quase idêntica à de hoje quanto à travessia do rio. Aconteceu no porto antigo, conhecido como da Lavina, quando um enorme banco de areia cerceou a navegação das lanchas. Inicialmente, valendo de enorme escavadeira foi aberto um canal na área mais rasa do banco de areia. O rio continuou vazando exigindo-se novas escavações o que se tornou  impossível aprofundar o canal posto a escavação ter atingindo um leito de pedras.  A ameaça de paralização da travessia ficou sem solução à vista. Diante da gravidade da situação o então secretário do Meio ambiente do município, com apoio do Codema e CBHSF9 examinou a possibilidade de improvisar uma passagem pelo banco de areia o que  exigia a construção de um pequeno aterro entre barranco e o banco de areia sobre um remanso com a largura de 3 metros utilizando-se o material extraído do próprio rio. Dali para frente a pista de rolagem dos veículos fluiria sobre a areia até atingir o canal navegável do outro lado. Medida preliminar foi solicitar a autorização a órgãos competentes para realizar a intervenção. ANA, Ministério de Minas e Energia, Igam, Marinha e Ministério Público foram consultados e todos declinaram da competência sobre o caso. O problema de agravava, dezenas de veículos de toda natureza formavam filas no porto da outra  margem, entre eles ambulâncias e transporte escolar. Na margem direita acontecia o mesmo, um enorme prejuízo.

Ousadamente o Codema, em vista da emergência, assumiu a competência  autorizando a realização da obra que, mal iniciada foi barrada pelas Polícias Militar e Ambiental acionadas por denúncias, que viam nela uma agressão ao rio sem, contudo, examinar as causas humanitárias e econômicas que exigiam a providência. Prevaleceu o bom senso e a obra foi autorizada normalizando-se, assim, o movimento da travessia que fluiu com rapidez e sem transtorno. 

Neste ano a situação é mais grave. O banco de areia é gigantesco, muito mais extenso, estendendo-se do porto às proximidades do Clube Campestre Carquejo, quase mil metros de descida e outro tanto de subida para atingir o porto da margem esquerda. Tentou-se abrir um canal. Foi iniciada a obra, paralisada por enquanto.

Sem solução imediata, a travessia complica-se a cada dia com o imenso risco de ser paralisada. Aí, pergunta-se: e a ponte? Uma velha promessa política, que se arrasta durante anos. O pior e mais grave, contudo, é a situação do rio São Francisco extremamente seco ainda no primeiro semestre do ano, mais soterrado que antes. É o que examinaremos em capítulos subsequentes. 

 

sábado, 18 de maio de 2024

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS – XIX

  

      AS FAMÍLIAS - III
 

O elenco que registro não tem proeminência pelo status social e até mesmo histórico. Poderia ocorrer em inexatidão. Assim, o registro nivela todas as famílias pelo que representaram na construção da etnia são-franciscana.

PRIMEIRA FASE HISTÓRICA

No art. 240 do Código Civil Brasileiro de 1916 a mulher assume, pelo casamento, com os apelidos do marido, a condição de sua companheira, consorte e auxiliar nos encargos da família.  Implica dizer que, ainda por tradição, ao se nomear uma família sempre é tomado o nome do esposo. O CC de 1916 foi alterado, contudo, tradicionalmentre, mantem-se o modo de tratamento ou reconhecimento de uma família, tendo como referência o nome do marido. Neste trabalho incluiremos o nome e família da esposa, na medida do possível de acordo com as informações obtidas. No caso, algumas lacunas serão anotadas considerando a dificuldade da pesquisa em melhor apurar os fatos e à falta de retorno de nossas solicitações às famílias remanescentes.

Nas citações observar-se-á o cruzamento de famílias decorrente de casamentos. Não conseguimos fazer as devidas distinções por falta de informações. É intricada a rede e muito difícil de estabelecer as origens das ligações tantas são elas. Um exemplo foi o que me narrou Eder sobre os cruzamentos da família Rocha com tantas outras famílias. E o mesmo se deu com Rocha-Fonseca-Vieira (são diversos ramos). Assim, tendo como base este levantamento, é possível que no futuro possa se estender a pesquisa.

 

 O TOPO DA CADEIA DAS FAMÍLIAS SÃO-FRANCISCANAS

 

Nomes encontrados em registro de Brasiliano Braz publicados no livro São Francisco no caminho da história

Antes de 1877: Melquíades José Gomes, Emídio Gonçalves Pereira, João Rodrigues Gangana*, Valetim Ernestino da Mota e Jacinto José Gomes.

Pós 1877: Francisco Carlos de Oliveira Sá, Antônio Joaquim Nunes Brasileiro- (1), Pulcino Andrade dos Santos, Luiz Martins Gandra – (2), Pedro Gonçalves de Abreu, Benedito José da Silva Caxito – (3), Teotônio Canabrava (Januária ), Antônio Lisboa de Abreu, Cezário Rodrigues Costa.

Pós 1884: Antônio Martins Castro, Manuel Joaquim de Oliveira, Antônio Ferreira Leite, Euzébio da Silva Pereira (pai da mestra Eralina Pereira), Jacinto Augusto Magalhães, Artur Neri Gangana, João Dias Maynart, José Cordeiro, Odorico Mesquita – (4), Ezequiel Gonçalves de Mendonça, Archimedes Mendonça, Antônio José Almeida, Arnaldo Leite Gangana*, Onias Torre Guedes*, Turíbio Gonçalves de Mendonça, Artur Passos Pinto, Euclides Liberato dos Santos.

 * Registro caminho do Rio

1.      Baiano. 2 (São Romão), 3 (São Romão), 4(baiano).

sábado, 11 de maio de 2024

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS – XVIII

  

      AS FAMÍLIAS - II
 

Determinar a origem das famílias são-franciscanas é uma empresa quase irrealizável por inteiro.  São tantos os fatores. Primeiro: não há registro escrito da constituição das primeiras famílias que aqui plantaram uma civilização. Segundo: uma considerável parcela  das famílias tradicionais passaram pela história sem deixar descendentes conhecidos Terceiro: Na atualidade, muitas famílias consultadas não conhecem bem a  origem de seus ancestrais, ou não retornaram as nossas consultas. Destarte, o nosso trabalho se apresenta como resgate das famílias conhecidas. De tempos mais recentes para que amanhã elas também não resvalem para o esquecimento à falta de registros escritos. É possível que, com o tempo, surja um historiador, de fato, com mais tempo e recursos financeiros para aprofundar numa pesquisa das famílias omitidas.

            Preliminarmente, à guisa de registro recorri ao livro São Francisco no caminho da história de Brasiliano Braz que, antes de escritor, foi  partícipe da história de São Francisco no período de 1905 quando da sua vinda de Brasília de Minas,  sua terra natal aos 8 anos,  até o ano de 1989, quando ocorreu o seu encantamento.

            Brasiliano Braz registra nomes de políticos que ocuparam cargos na Câmara Municipal da Vila de São José de Pedras dos Angicos e, depois de 1877, quando da criação da cidade de São Francisco. São raras, contudo, as citações dando a origem desses políticos que aqui plantaram uma civilização a partir de 1876, data da instalação da Câmara Municipal, transferida de São Romão. Resta-me relacionar o nome desses políticos porque, de fato, foram oriundos das primeiras famílias da cidade de São Francisco, consequentemente do município. Certamente, se for de bom alvitre, conhecendo este trabalho, quem se identificar com os nomes lembrados poderá dar uma contribuição à nossa história trazendo as suas origens. O quase certo é que eles, em sua maioria, são oriundos de regiões do Nordeste e assim, portanto, chegando a São Francisco pelo caminho do rio São Francisco.

            É mister destacar, uma vez mais, o roteiro da chegada das famílias que constituíram a sociedade são-franciscana, a saber:

            Caminho pelo rio, resultado da migração de nordestino para a região do Sul, em especial São Paulo, em busca de melhoria de vida, êxodo provocado pelas constantes secas e notável abandono por parte dos governantes que deles só lembram em épocas eleitorais. Muitos vieram com destino certo, tendo como informações os pioneiros que aqui se assentaram; outros decorrentes de casualidade – na passagem pela cidade que se despontava como promissora, desembarcando de vapores numa visita frugal tomaram gosto e não seguiram viagem. Fatos registrados por José Ferraz e João Próbio. Outras famílias chegaram com destino certo, por ouvir falar sobre a comunidade que prosperava ou por chamado de familiares ou amigos. Trouxeram em suas bagagens nos vapores uma semente nordestina: costumes, alimentação, música, dança, vestuário e a dialética especial que logo foi cognominada de “baianeira”

            Pelo caminho do sertão, houve uma trilha primeira, formando-se interessantes núcleos. Matias Cardoso se fixou nas margens do São Francisco. Antônio Gonçalves Figueira embrenhou-se no sertão, estabeleceu uma fazenda nas cabeceiras do Rio Verde estabelecendo a fazenda Jaiba e, mais na frente a fazenda Formiga, hoje Montes Claros. A irradiação geográfica e etnográfica logo se deu em diversas rotas formando-se diversos núcleos no Norte de Minas. Com tempo foram surgindo as povoações Monte Azul, Espinosa, Janaúba, Contendas, Santo Antônio da Boa Vista (São João da Ponte) (dela Ubaí, Ponto Chic e Luislândia). Deste ramo geográfico  muitas famílias vieram se assentar em São Francisco. Uma referência especial ao vale do Gorutuba que teve destaque especial na construção da etnia são-franciscana – os negros, João Batista de Almeida Costa, in “Norte de Minas, cultura catrumana, suas gentes, razão liminar”, dá o rumo: “intensas fugas de escravos, para afluentes pestilentos como o rio Verde Grande, Pequeno e Gorutuba, etc... (onde) criaram quilombos e eram imunes às maletas”, Temos registros de diversas famílias que migraram do Gorutuba para São Francisco por ocasião de uma grande seca ou para escapar da sanha de fazendeiros. Exemplo maior é o da comunidade de Buriti do Meio de Eusébio Gramacho, hoje quilombola Buriti do Meio.

            Então, seguindo esta linha, teremos o registro de muitas famílias oriundas de municípios vizinhos, especialmente Brasília de Minas (e Luislândia e Ubaí, quando distritos). Famílias constituída pela corrente migratória do interior.