sexta-feira, 23 de agosto de 2019

VIVÊNCIAS – CONTOS

CORA CORALINA
“Aprofundar cada vez mais nos estudos da Literatura e Teoria Literária para entender e decifrar o universo poético desta grande poeta” – é o que me passou Iêda Vilas-Bôas na apresentação do seu belo  livro Cora Coralina – A mulher-poeta e suas múltiplas vozes.
            A chamada abriu-me o caminho para uma reflexão e, ao mesmo tempo, uma imediata resposta a uma crítica que um amigo fizera a respeito da poesia, ou seja, a  forma dela dizer alguma coisa ao leitor, que não aceita o sentido figurado e muito menos o hermetismo.
            Entendo a leitura da poesia de duas formas. Uma: o simples apreciar, o gostar, o desfrutar de cada verso com a sensibilidade, que pode tocar o coração através da janela dos olhos. O simples gostar. Pronto. Duas: como disse Iêda, ainda na apresentação de seu livro: “Como elemento facilitador para a ampliação do universo literário dos leitores”.
            Pela primeira forma posso dizer que gostei muito da poesia de Cora Coralina porque de tão simples, pura e cheia de emoção, ela me tocou de imediato. Sim, por que digo de imediato? Porque Iêda despertou-me o interesse pela decantada poeta que, ainda, não tinha lugar em minha estante. Assim, a minha primeira providência  foi a de comprar alguns livros dela e assim o fiz, de inicio, com duas obras – uma coletânea de autoria de Darcy França Denófrio – “Cora Coralina – e Vintém de Cobre, Meias Confissões de Aninha”, este da própria Cora. Devia tê-lo feito antes, pois Cora me emocionou, conquistou-me.
            Cheguei ao poema Das Pedras, de beleza rara, exalando simplicidade, profundo significado e palpitando a vida nos mais profundo do âmago para se revelar o “universo do leitor” para narrar uma história. Porém, volto a dizer, que encontrei  caminho para abrir o meu universo em relação à própria poesia e, assim, de cara, entendi e senti, muito mais o primeiro poema lido de Cora e foi como tivesse caminhando, ao lado dela, pelas ruas de sua cidade, molhando os pés no rio Vermelho.
            Eu revelei à Iêda, que parte de minha infância eu vivi em Araguari cuja proximidade geográfica com Goiás acendia em nós fascínio por aquele Estado. E motivos não faltavam: eu morava com meus tios, em uma casa que ficava a um quarteirão da praça da estação da ferrovia Goiás, onde trabalhavam minhas primas Helena e Margarida. De Goiás vinham, de quando em quando, índios em busca de ajuda e meu tio, italiano radicado no Brasil, sempre repetia: “esses são os verdadeiros brasileiros”. E para Goiás eu sempre viajava em excursões, como Lobinho de um grupo de escoteiros da cidade – o destino era, sempre, Anhanguera, onde ficávamos atentos e curiosos com a história do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, Anhanguera, que pôs fogo na água de uma lagoa para amedrontar os índios e deles tirar informação sobre a existência de ouro na região. Com esses elementos povoando minha infância eu repetia na escola que era goiano. Ainda menino deixei o Triângulo levado para Belo Horizonte e nunca mais voltei. Depois de alguns anos, ainda na flor da juventude, meu destino foi o Norte de Minas onde plantei minhas raízes nas barrancas do rio São Francisco.
            Agora, meu pensamento é levado a voar em território goiano, pousando na cidade de Goiás, na Casa Velha da Ponte, às margens do rio Vermelho. Daqui para frente será uma nova aventura no meu desbravar do mundo construído de letras pela sensibilidade de Cora Coralina.
            Por tão auspicioso presente – inesperado posso dizer – agradeço muito à Iêda.

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