“Aprofundar
cada vez mais nos estudos da Literatura e Teoria Literária para entender e
decifrar o universo poético desta grande poeta” – é o que me passou Iêda
Vilas-Bôas na apresentação do seu belo
livro Cora Coralina – A mulher-poeta e suas múltiplas vozes.
A chamada abriu-me o caminho para
uma reflexão e, ao mesmo tempo, uma imediata resposta a uma crítica que um
amigo fizera a respeito da poesia, ou seja, a
forma dela dizer alguma coisa ao leitor, que não aceita o sentido
figurado e muito menos o hermetismo.
Entendo a leitura da poesia de duas
formas. Uma: o simples apreciar, o gostar, o desfrutar de cada verso com a
sensibilidade, que pode tocar o coração através da janela dos olhos. O simples
gostar. Pronto. Duas: como disse Iêda, ainda na apresentação de seu livro:
“Como elemento facilitador para a ampliação do universo literário dos
leitores”.
Pela primeira forma posso dizer que
gostei muito da poesia de Cora Coralina porque de tão simples, pura e cheia de
emoção, ela me tocou de imediato. Sim, por que digo de imediato? Porque Iêda
despertou-me o interesse pela decantada poeta que, ainda, não tinha lugar em
minha estante. Assim, a minha primeira providência foi a de comprar alguns livros dela e assim o
fiz, de inicio, com duas obras – uma coletânea de autoria de Darcy França
Denófrio – “Cora Coralina – e Vintém de Cobre, Meias Confissões de Aninha”,
este da própria Cora. Devia tê-lo feito antes, pois Cora me emocionou, conquistou-me.
Cheguei ao poema Das Pedras, de
beleza rara, exalando simplicidade, profundo significado e palpitando a vida
nos mais profundo do âmago para se revelar o “universo do leitor” para narrar
uma história. Porém, volto a dizer, que encontrei caminho para abrir o meu universo em relação
à própria poesia e, assim, de cara, entendi e senti, muito mais o primeiro
poema lido de Cora e foi como tivesse caminhando, ao lado dela, pelas ruas de
sua cidade, molhando os pés no rio Vermelho.
Eu revelei à Iêda, que parte de
minha infância eu vivi em Araguari cuja proximidade geográfica com Goiás
acendia em nós fascínio por aquele Estado. E motivos não faltavam: eu morava
com meus tios, em uma casa que ficava a um quarteirão da praça da estação da
ferrovia Goiás, onde trabalhavam minhas primas Helena e Margarida. De Goiás
vinham, de quando em quando, índios em busca de ajuda e meu tio, italiano
radicado no Brasil, sempre repetia: “esses são os verdadeiros brasileiros”. E
para Goiás eu sempre viajava em excursões, como Lobinho de um grupo de
escoteiros da cidade – o destino era, sempre, Anhanguera, onde ficávamos
atentos e curiosos com a história do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva,
Anhanguera, que pôs fogo na água de uma lagoa para amedrontar os índios e deles
tirar informação sobre a existência de ouro na região. Com esses elementos
povoando minha infância eu repetia na escola que era goiano. Ainda menino
deixei o Triângulo levado para Belo Horizonte e nunca mais voltei. Depois de
alguns anos, ainda na flor da juventude, meu destino foi o Norte de Minas onde
plantei minhas raízes nas barrancas do rio São Francisco.
Agora, meu pensamento é levado a
voar em território goiano, pousando na cidade de Goiás, na Casa Velha da Ponte,
às margens do rio Vermelho. Daqui para frente será uma nova aventura no meu
desbravar do mundo construído de letras pela sensibilidade de Cora Coralina.
Por tão auspicioso presente –
inesperado posso dizer – agradeço muito à Iêda.
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